quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Por Um Punhado de Dólares

Esse é um dos grandes clássicos do chamado western spaghetti. O termo que pode até soar engraçado hoje em dia se refere aos faroestes produzidos e rodados na Itália com atores e equipe técnica daquele país, muitas vezes usando pseudônimos americanizados. Como se sabe o Western é um gênero tipicamente norte-americano pois o tema central é justamente a conquista do oeste daquela nação. Os italianos porém não se importaram muito com esse detalhe e a partir da década de 60 intensificaram a produção desse tipo de filme. Além da nacionalidade outras características distinguem bem os filmes italianos dos americanos. A ação é bem mais incessante, não há muita preocupação com roteiros bem elaborados e as interpretações tendem ao exagero, com vilões cartunescos e muita violência. Esse "Por Um Punhado de Dólares" tem tudo isso mas também é uma fita diferenciada. Essa singularidade tem nome: Sergio Leone. Cineasta talentoso, hábil, ele mostra nesse filme porque ainda hoje é um considerado um dos grandes mestres do cinema.

O uso de tomadas ousadas, cenas com muito clima e detalhes, além da combinação muito bem realizada entre trilha sonora e ação fizeram toda a diferença do mundo. As cenas de violência não são ainda tão bem elaboradas como às que veríamos em futuros trabalhos assinados pelo diretor mas aqui já há nitidamente um esboço de seu estilo e forma de trabalhar. O roteiro simplório não impede que Leone consiga mostrar grandes feitos em sua direção. O próprio duelo final é um exemplo, com ótima edição e enquadramento. Para coroar ainda mais esse faroeste temos a presença de um dos grandes atores desse gênero: Clint Eastwood. Aqui ele interpreta o pistoleiro sem nome que chega numa cidadezinha empoeirada no meio do deserto. O local é disputado por dois grupos rivais, ambos violentos e extremamente armados. O personagem de Eastwood então resolve tirar proveito dessa rivalidade. O que se sucede são muitos tiroteios, duelos e cenas de ação bem ao estilo do western spaghetti. A trilha sonora de Ennio Morricone pontua cada cena, cada tensão, cada troca de tiros. Parece ser onipresente. A conclusão que se chega ao final de sua exibição é que embora muitos aspectos do filme estejam datados e ultrapassados ele ainda resiste como um excelente exemplo do tipo de cinema que se realizava na Itália durante a década de 60. Além disso é um ótimo testemunho do talento de Sergio Leone, um diretor de muito tato e inspiração. 

Por Um Punhado De Dólares (Per un pugno di dollari, Itália, 1964) Direção: Sergio Leone / Roteiro: A. Bonzzoni, Víctor Andrés / Elenco: Clint Eastwood, Gian Maria Volonté, Marianne Koch / Sinopse: Clnt Eastwood interpreta o pistoleiro sem nome que chega numa cidadezinha empoeirada no meio do deserto. O local é disputado por dois grupos rivais, ambos violentos e extremamente armados. O personagem de Eastwood então resolve tirar proveito dessa rivalidade.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Audie Murphy e o Western - Parte 3

Audie Murphy foi de certa forma um astro improvável. Ele não era muito alto, nem muito bonito e muito menos carismático. Sua entrada no cinema se deu por causa de sua notoriedade durante a II Guerra Mundial, uma vez que ele foi o militar mais condecorado da guerra. Sua capacidade de atuar dramaticamente era limitada, porém com tantas medalhas e fama de herói, era mesmo previsível que Hollywood o procurasse mais cedo ou mais tarde.

Sua estreia no cinema se deu em 1948. Era quase um teste que a United Artists fazia com ele, para ver se Audie levava jeito com a câmera. O filme se chamava "Viver Sonhando" e não era um filme de guerra e nem um faroeste. Dirigido por William Castle, um diretor e produtor especialista em filmes B, esse era um romance açucarado, onde Murphy não tinha muito espaço. Seu personagem tinha uma participação mínima dentro da trama e como já foi escrito tudo não passou de um teste para saber como Audie Murphy aparecia na tela grande dos cinemas.

Apesar de não ter sido grande coisa ele acabou sendo aprovado. Castle disse aos executivos do estúdio que ele levava jeito para a atuação. A única observação que ele disse para os produtores é que não o escalassem mais para filmes românticos, já que Audie Murphy definitivamente não fazia o tipo galã ao estilo Rock Hudson. Ele se sairia melhor interpretando caras comuns em situações excepcionais, que colocavam em desafio seus valores e sua bravura. A Paramount entendeu o recado e contratou Audie Murphy para um novo filme que estava prestes a ser produzido.

O filme se chamava "Código de Honra". Dirigido por John Farrow e estrelado pelo astro
Alan Ladd (de "Os Brutos Também Amam") esse filme era bem mais adequado para Murphy. Era um drama de guerra, passado nos campos de batalha da Tunísia, onde foram travados alguns dos mais sangrentos combates entre forças inimigas. A história girava em torno do capitão Rockwell 'Rocky' Gilman (Ladd) e suas idas e vindas entre os Estados Unidos e a Tunísia, a grande paixão de sua vida e as tentativas de ter um recomeço na vida. Audie Murphy interpretava um jovem cadete de West Point chamado Thomas. Foi a primeira vez que ele usou o mesmo uniforme militar com que tinha lutado na guerra em um filme. Uma prévia do que viria em sua carreira nos anos seguintes.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

A Glória de um Covarde

Título no Brasil: A Glória de um Covarde
Título Original: The Red Badge of Courage
Ano de Produção: 1951
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: John Huston
Roteiro: John Huston
Elenco: Audie Murphy, Bill Mauldin, Douglas Dick

Sinopse:
Henry Fleming (Audie Murphy) é um jovem soldado ianque durante a guerra civil americana. Seu regimento se prepara há tempos para entrar em combate mas esse dia sempre é adiado. Ao contrário de seus colegas de tropa, Fleming teme por sua vida no campo de guerra. Durante sua primeira batalha ele entra em pânico e com medo de morrer sai correndo do front. Isso lhe traz uma crise de consciência terrível que faz com que ele volte para enfrentar o inimigo com uma bravura jamais vista no fogo cruzado entre os soldados do norte e seus inimigos, os confederados do sul. Indicado ao BAFTA Awards na categoria Melhor Filme.

Comentários:
Uma pequena obra prima assinada pelo mestre John Huston. O cineasta resolveu roteirizar o famoso livro de autoria de Stephen Crane que explora os medos e anseios de um soldado comum durante a guerra civil americana. A estória se passa em 1862 e o enredo se desenvolve todo em apenas dois dias na vida daqueles homens. O grande diferencial desse "The Red Badge of Courage" em relação a outros filmes sobre a guerra civil  da época é que ele desenvolve excepcionalmente bem a personalidade do jovem soldado, mostrando seus pensamentos, seu receio e o terror frente ao inimigo e por fim sua redenção gloriosa. Todos os membros do pelotão são muito bem desenvolvidos psicologicamente e isso mostra muito bem como Huston era um gênio do cinema, um diretor realmente diferenciado. Em uma época em que os filmes de western mostravam homens bravos, sem máculas, ele ousou realizar um filme mostrando um sujeito com muitas dúvidas, agindo até mesmo como um covarde, temeroso por sua vida e seu destino. Outro aspecto digno de nota é a interpretação do ator Audie Murphy. Ele mesmo um veterano de guerra, se mostra excepcional em cena, algo que vai surpreender a muitos que o consideravam apenas como um ator mediano de faroestes B. Enfim, temos mesmo aqui uma obra de arte com a assinatura do genial Huston. Um belo filme que vai agradar em cheio os admiradores do mais americano dos gêneros cinematográficos.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 21 de outubro de 2025

Contos de Western: Choque de Ódios

Capítulo 1 – O Campo de Fantasmas
O sol já começava a declinar quando o capitão Elias Monroe avistou, à distância, a silhueta branca de uma grande casa sulista. Erguia-se solitária no horizonte, cercada por fileiras de carvalhos e um vasto campo de algodão já colhido, como um fantasma das colheitas passadas. O vento soprava do sul, trazendo o cheiro do pó e da pólvora, misturado ao perfume adocicado das flores que sobreviviam teimosamente no jardim abandonado.

A tropa da União vinha de dias de marcha ininterrupta. Eram apenas treze homens, exaustos, com uniformes rasgados e rostos queimados pelo sol. Haviam se separado do regimento principal após uma escaramuça nas margens do rio Yazoo. Sem mapas, guiavam-se apenas pela intuição do capitão e o desejo desesperado de encontrar abrigo antes que a noite os engolisse.

Quando avistaram a mansão, alguns pensaram que fosse miragem. Era imponente demais para ainda estar de pé, com suas colunas brancas e varandas amplas, um símbolo dos velhos tempos de riqueza do sul. “Deve ter sido uma fazenda de algodão”, disse o sargento Whitaker, coçando a barba rala. “Uma casa de senhores, talvez. Agora é só mais um túmulo.”

Monroe olhou para ela em silêncio. No fundo, sentiu algo estranho — como se aquele lugar os observasse de volta. Ainda assim, ordenou que avançassem. A noite se aproximava, e a guerra não perdoava homens ao relento. Marcharam em silêncio, cruzando o campo seco, enquanto corvos giravam lentamente sobre suas cabeças.

A primeira coisa que notaram ao entrar foi o silêncio. Um silêncio denso, sufocante. As portas estavam escancaradas, o chão coberto de poeira e folhas. Mas os móveis estavam lá — sofás de veludo, cristaleiras cheias de taças, retratos nas paredes. E, no porão, dezenas de garrafas de vinho francês, intactas. “Parece que o dono saiu e nunca mais voltou”, murmurou o soldado O’Donnell.

Em poucos minutos, o cansaço se transformou em alívio. Os homens riram, beberam, acenderam lamparinas. Fizeram fogo na lareira, limparam um pouco o salão principal e se deixaram embalar pela sensação quase esquecida de conforto. Monroe, porém, mantinha-se inquieto. Olhava para os retratos — um homem de terno branco, uma mulher altiva de olhar severo, uma menina com um laço azul no cabelo. Famílias inteiras que talvez já tivessem sido varridas pela guerra.

Quando o relógio de parede soou as nove badaladas, algo pareceu estremecer na casa. Uma janela se fechou sozinha. O’Donnell, rindo, disse que era o vento. Mas Monroe sentiu um arrepio que não vinha da brisa. Mesmo assim, ordenou que descansassem. Amanhã voltariam a tentar o norte, para reencontrar o exército da União.

Enquanto os soldados adormeciam sobre sofás e tapetes, a lua ergueu-se por trás dos carvalhos. A luz prateada entrou pelas janelas quebradas, riscando o chão de sombras. E, por um instante, Monroe jurou ver uma figura branca passando ao longe — uma mulher, imóvel, no meio do campo de algodão.

Ele piscou. A visão sumiu.
Mas o mal-estar permaneceu.

Capítulo 2 – Ecos na Escuridão
A noite caiu densa sobre a planície. Dentro da grande casa, as chamas da lareira tremeluziam como corações inquietos. Os homens dormiam espalhados pelas salas, alguns sobre sofás de veludo rasgado, outros recostados contra as colunas do salão principal. O ar estava pesado de fumaça, vinho e o suor de dias de marcha. Apenas o capitão Monroe mantinha-se desperto, vigiando pela janela quebrada do andar superior.

Lá fora, o campo de algodão reluzia sob o luar — uma extensão branca e silenciosa, quase sagrada. O capitão pensou em como aquele algodão, outrora símbolo da riqueza do sul, agora cobria a terra como mortalha. Era um mar de fantasmas. O vento soprava leve, mas trazia sons distantes — talvez trovões, talvez o eco de cavalos. Ele se perguntou se seriam ecos de batalhas antigas ou o prelúdio de uma nova.

Descendo as escadas, Monroe encontrou o soldado Harper acordado, fumando perto da lareira. “Não consegue dormir, capitão?” perguntou o rapaz. “Não é o tipo de lugar que deixa um homem descansar fácil”, respondeu ele. Harper riu nervosamente. “Parece que os antigos donos ainda estão por aqui. Ouvi passos no andar de cima.” Monroe o fitou. “Certamente era eu.” Mas no fundo, não tinha certeza.

Ao explorar a casa, Monroe descobriu a cozinha intacta, com panelas ainda penduradas e louças alinhadas como se esperassem o jantar. Encontrou também uma pequena sala de música — um piano coberto de pó e partituras amareladas. Sentou-se diante do instrumento e, movido por impulso, pressionou uma tecla. Um som grave e desafinado ecoou pela casa, fazendo alguns soldados se revirarem no sono. E então, de algum lugar acima, veio o estalo nítido de uma porta se abrindo.

O capitão subiu novamente, cauteloso, arma em punho. No fim do corredor, a porta do quarto principal estava entreaberta. Ele a empurrou devagar. O quarto era vasto e escuro, com uma cama de dossel coberta por lençóis antigos. Sobre a penteadeira, um espelho oval refletia sua própria figura à luz da lamparina — mas por um instante, jurou ver outra silhueta atrás de si. Uma mulher, alta, vestida de branco, parada à beira da cama. Piscou, e ela desapareceu.

Assustado, Monroe voltou ao saguão. O relógio marcava quase meia-noite. A lareira crepitava baixo, e o sargento Whitaker ressonava alto, sonhando com casa. Lá fora, o vento aumentava. O som dos galhos parecia o murmúrio de vozes. E, de repente, veio um estampido seco — como um tiro. Todos despertaram num sobressalto, puxando as armas.

“De onde veio isso?”, gritou O’Donnell. Monroe correu até a varanda, o rifle em mãos. O campo de algodão permanecia imóvel. Nenhum movimento. Nenhum inimigo. Apenas o eco distante de cavalos, agora mais forte, vindo do sul. Os homens se entreolharam — a tensão era palpável. “Talvez apenas um caçador”, sugeriu Harper. Mas Monroe sabia: não havia caçadores em cem milhas. E o som dos cavalos soava organizado… militar.

Quando voltaram para dentro, o capitão fez o sinal da cruz. “Amanhã sairemos ao amanhecer”, disse ele. “Antes que o inferno nos encontre aqui.”

Mas o inferno já os observava.
E ele viria antes do sol.

Capítulo 3 – O Cerco
O amanhecer trouxe uma luz fria e silenciosa. O campo de algodão parecia coberto por uma fina névoa que se erguia do solo como fumaça de um campo de batalha esquecido. Monroe acordou cedo, antes dos outros, e subiu à varanda do segundo andar. O ar tinha cheiro de chuva e ferro. Daquela altura, podia ver milhas adiante — e o que viu fez seu sangue gelar: pequenas colunas de fumaça no horizonte. Sinais de acampamentos. Tropas confederadas.

Desceu às pressas. “Todos de pé!” bradou. Os soldados acordaram assustados, ainda tontos de vinho e sono. “Temos companhia. Os rebeldes estão perto.” O sargento Whitaker correu para o pátio com o binóculo em mãos. Confirmou o que o capitão dissera — cavaleiros ao sul, e mais dois grupos se movendo pela estrada a oeste. Eles estavam sendo cercados.

“Quantos são?”, perguntou O’Donnell.
“Pelo menos uns cinquenta. Talvez mais”, respondeu Whitaker, engolindo seco.
“E nós somos treze”, disse Harper, rindo sem humor.

Monroe não hesitou. “Vamos transformar esta casa num forte.” Em minutos, os homens se espalharam, empurrando móveis pesados contra portas e janelas, montando barricadas improvisadas com mesas e estantes. As garrafas de vinho foram substituídas por cartuchos e pólvora. As cortinas elegantes viraram bandagens e cordas. A mansão, outrora símbolo de luxo, tornava-se agora um campo de guerra.

No porão, encontraram um pequeno arsenal: uma velha espingarda de caça, algumas munições enferrujadas e, para espanto de todos, um canhão de campanha coberto por lonas. “Deus abençoe os velhos senhores do sul”, disse O’Donnell, limpando o pó do ferro. “Parece que um deles deixou um presente.” Monroe sorriu pela primeira vez em dias. “Então faremos com que valha a pena.”

Enquanto preparavam as defesas, um silêncio tenso tomou conta da casa. De tempos em tempos, um corvo cruzava o céu, grasnando como se anunciasse o que estava por vir. Monroe subiu novamente à varanda e observou o inimigo se aproximando. Podia ver agora as bandeiras cinzentas tremulando, os cavaleiros armados de fuzis e sabres. E entre eles, um oficial de barba branca montado num cavalo negro — parecia liderá-los com autoridade fria.

O capitão respirou fundo. “Whitaker, posicione dois homens no telhado. Quero olhos em todas as direções. Harper, vigie o flanco leste. O’Donnell, carregue o canhão.”
“E o senhor, capitão?”
“Eu? Vou rezar um pouco. E depois, lutar.”

Ao meio-dia, o primeiro disparo ecoou. Uma bala acertou o corrimão da varanda, arrancando uma lasca de madeira. Os homens da União responderam quase imediatamente, e o campo branco se encheu de fumaça. O som da guerra voltava a dominar o sul, fazendo tremer as colunas da antiga casa.

Por horas trocaram tiros. Os confederados, em número muito superior, cercaram a propriedade em semicírculo, atacando por ondas. Mas a mansão resistia. Cada janela se transformou em posto de tiro; cada sala, em trincheira. Os soldados da União, famintos e exaustos, lutavam com o fervor de homens que sabiam não ter para onde correr.

Quando o sol começou a descer, as paredes estavam cravejadas de buracos, e o chão, manchado de sangue. Dois dos homens caíram — Harper e o jovem Miller. Monroe fechou os olhos ao vê-los tombar, e por um instante, a culpa o sufocou. “Eles morreram lutando, capitão”, disse Whitaker, tentando confortá-lo. “É o que fazemos de melhor.” Monroe assentiu. Mas no fundo, sabia que aquilo não era glória — era apenas a lenta devoração da alma.

A noite caiu novamente sobre a casa. O fogo ardeu baixo nas barricadas, e o inimigo se afastou por ora. Lá fora, o campo de algodão agora ardia em chamas — branco transformado em vermelho. Monroe olhou pela janela e murmurou: “Eles não vão parar.”
E, ao longe, sob a lua, o som dos tambores começou a soar.

O cerco apenas começara.

Capítulo 4 – O Sangue e o Algodão
A madrugada amanheceu envolta em fumaça. As colinas ao redor da fazenda estavam cobertas de névoa e o campo de algodão parecia um tapete cinzento, silencioso, como se a própria terra contivesse a respiração antes do ataque. Os homens da União se movimentavam em silêncio dentro da casa. As barricadas haviam sido reforçadas, e o canhão encontrado no porão agora estava posicionado na varanda, apontado para a estrada.

O sargento Whitaker afiava sua baioneta junto à janela. “Eles virão hoje, capitão. Sei quando um homem está prestes a matar.”
Monroe assentiu, com o olhar duro. “Então que encontrem homens prontos para morrer também.”

Às sete da manhã, o primeiro ataque veio. Uma carga de cavaleiros confederados desceu a colina em formação, bandeiras cinzentas tremulando, gritos de guerra cortando o vento. Os disparos ecoaram, e o som das balas zunindo encheu o ar. O’Donnell puxou o gatilho do canhão, e uma explosão ensurdecedora abriu um clarão que iluminou o campo inteiro. Cavaleiros foram lançados ao ar, e os que sobreviveram se dispersaram em pânico.

Mas logo vieram mais — fileiras de infantaria surgiram da névoa, marchando em direção à casa. O som de tambores e cornetas misturava-se ao estalar das armas. As janelas da mansão cuspiam fogo. Harper, mesmo ferido, gritava ordens entre tiros. O’Donnell recarregava o canhão com as mãos ensanguentadas. Monroe, no alto da escadaria, observava tudo como um general de ruína, comandando não um exército, mas uma lembrança dele.

O chão tremeu com a intensidade dos disparos. A cada carga repelida, mais homens caíam. Um soldado chamado Lewis foi atingido no pescoço; outro, Briggs, teve o braço arrancado por uma bala de canhão. Ainda assim, ninguém recuou. A casa tornara-se viva — respirava, gemia, sangrava junto com eles. As paredes brancas estavam manchadas de vermelho, e o algodão no campo ardia em chamas, parecendo neve suja de sangue.

Quando a noite caiu, os confederados recuaram novamente. A casa estava de pé, mas mal. Parte do telhado havia desabado. Um incêndio consumia o celeiro. Monroe sentou-se exausto no degrau da escadaria, observando os corpos no chão. “Quantos restam?”, perguntou.
“Sete, senhor”, respondeu Whitaker. “Sete vivos.”
“Então somos o que resta da União neste maldito lugar.”

A chuva começou a cair, misturando-se ao sangue e à fuligem. O capitão olhou para o campo em brasas e murmurou: “Amanhã, eles virão em dobro.”
E sabia que era verdade.

Capítulo 5 – O Coração da Mansão
A chuva caiu durante toda a madrugada, abafando o som distante dos tambores confederados. A casa estava em ruínas. O teto gotejava, o chão era uma mistura de lama e sangue. Monroe e os poucos sobreviventes se reuniram na sala principal. Acenderam velas e improvisaram curativos. O silêncio era pesado — o tipo de silêncio que antecede a morte.

Enquanto cuidava dos feridos, Monroe notou algo estranho. No canto da sala, sob os escombros, havia uma pequena porta de ferro semioculta por um tapete. Parecia levar a um porão mais profundo. Tomado por curiosidade, abriu-a. Desceu com uma lamparina na mão e encontrou um ambiente que não parecia apenas um depósito. Era uma antiga adega, sim — mas no centro havia uma cadeira, algemas enferrujadas e marcas nas paredes. Um antigo porão de escravos castigados.

Ele se ajoelhou, tocando o ferro frio. O passado do sul estava ali — concreto, cruel. Entendeu, enfim, por que aquela casa parecia amaldiçoada. “Os pecados antigos nunca morrem”, murmurou. Ao voltar, encontrou Whitaker observando pela janela. “Eles se preparam para o amanhecer”, disse o sargento. “Estão trazendo reforços.”

Monroe olhou para os rostos dos homens. Nenhum fugiria. Nenhum se renderia. Mas todos sabiam: estavam condenados. Ainda assim, o capitão sentiu que havia algo quase sagrado naquela resistência. Não lutavam mais por vitória — lutavam para deixar uma marca. Para provar que, mesmo esquecidos, morreriam como soldados.

Durante a madrugada, o capitão subiu ao quarto principal. Sentou-se à frente do velho espelho. Pela primeira vez em dias, viu-se claramente — os olhos cansados, o rosto coberto de fuligem, o olhar endurecido. E atrás de si, a figura da mulher branca outra vez. Ela não falava, apenas observava. Monroe não sentiu medo, apenas um estranho consolo. “Você também perdeu alguém nesta guerra, não foi?”, murmurou. O reflexo desapareceu.

Quando o sol nasceu, ele estava pronto.

Capítulo 6 – A Última Linha
O terceiro dia começou com fogo. Os confederados abriram ataque com artilharia pesada, bombardeando a casa a distância. As colunas caíam uma a uma, e o som dos estalos era como ossos quebrando. Monroe ordenou que todos se abrigassem no andar inferior. Lá, cada homem ocupou uma janela, transformando cada quarto em trincheira.

O’Donnell foi o primeiro a cair. Um disparo atravessou a parede e o atingiu no peito. Ele ainda teve tempo de sorrir para Monroe antes de desabar. O capitão ajoelhou-se ao seu lado e fechou-lhe os olhos. “Descansa, soldado. Você já cumpriu sua parte.”
O resto continuou lutando. A fumaça era tanta que mal se via o inimigo. Tiros ecoavam de todas as direções. O calor do fogo misturava-se ao cheiro de pólvora e madeira queimando. A mansão tornara-se um inferno de estalos e gritos.

Ao meio-dia, apenas quatro homens restavam. Monroe, Whitaker, Harper e um recruta chamado Evans. O jovem tremia, segurando o rifle com as duas mãos. “Eles são muitos, capitão!”, gritou.
“Não olhe para eles, Evans. Olhe para mim”, respondeu Monroe. “Enquanto estivermos vivos, esta casa continua de pé.”

Quando o inimigo avançou pela varanda, Monroe acendeu o estopim do canhão pela última vez. A explosão lançou chamas e estilhaços. O impacto derrubou parte da fachada, e dezenas de confederados foram mortos instantaneamente. Mas o canhão rachou e explodiu junto, lançando o capitão contra a parede. O mundo girou. Tudo ficou vermelho.

Ao recobrar a consciência, Monroe viu apenas fumaça e vultos. Whitaker jazia morto. Harper desaparecera. Evans ainda respirava, mas mal. A casa estava em ruínas. Mesmo assim, lá fora, as tropas inimigas hesitavam. Por um momento, o silêncio reinou. E Monroe, coberto de sangue e cinzas, ergueu a bandeira azul da União sobre os escombros da varanda.

Um símbolo.
Um desafio.

Capítulo 7 – A Bandeira no Crepúsculo
A bandeira tremulava no vento, rasgada, manchada de lama e sangue. O sol começava a se pôr, tingindo o céu de vermelho. Do campo, os confederados observavam em silêncio. Ninguém se movia. Talvez respeitassem a coragem daqueles poucos homens. Talvez estivessem apenas se preparando para o golpe final.

Evans morreu ao entardecer. Monroe o enterrou atrás da casa, entre os restos queimados do jardim. “Você lutou como um homem”, disse baixinho. “E isso basta.” Ficou sozinho. O último. O vento trazia o som distante de vozes, ordens, o mover de cavalos. A noite cairia, e com ela viria o ataque final.

Antes que escurecesse por completo, o capitão subiu ao quarto principal. As paredes estavam chamuscadas, e o espelho partido refletia fragmentos de seu rosto. De repente, ouviu passos atrás de si. Virou-se com a arma em punho — e viu, pela última vez, a mulher de branco. Desta vez, ela falava.

“Sua luta já terminou, capitão. A casa está satisfeita.”
“Quem é você?” perguntou ele, a voz rouca.
“A senhora que viu este chão ser manchado. Agora, você devolveu a cor.”

Ela desapareceu. E Monroe, tomado por uma estranha paz, sorriu pela primeira vez em dias.

Capítulo 8 – O Fim do Cerco
O amanhecer chegou envolto em fumaça e silêncio. As tropas confederadas cercaram os escombros, preparadas para a invasão final. Mas nenhum tiro veio da casa. Nenhum som. Apenas o estalar de brasas e o bater de um pano ao vento — a bandeira da União, ainda tremulando sobre as ruínas.

Quando finalmente entraram, encontraram corpos carbonizados, estilhaços e destroços. No salão principal, de joelhos e ainda ereto, estava o corpo do capitão Monroe. O rifle repousava em suas mãos. O olhar, fixo na porta de entrada. Como se ainda guardasse a casa.

O oficial confederado — o mesmo homem de barba branca visto dias antes — retirou o chapéu. “Que ninguém toque nele”, ordenou. “Enterrem-no aqui. Ele lutou como soldado.”
E assim foi feito.

Sobre o túmulo improvisado, deixaram a bandeira azul. O vento soprou mais forte, e o campo de algodão balançou, cobrindo lentamente a casa destruída.

Capítulo 9 – Os Anos Passaram
Décadas depois, a guerra era apenas lembrança. A casa de algodão foi reconstruída parcialmente, transformada em museu. Diziam que, em noites de lua cheia, ainda se ouvia o eco de tiros e vozes. Turistas afirmavam ver uma silhueta na varanda, de farda azul, vigiando o campo.
Um guia local contava sempre a mesma história: “Treze homens da União encontraram abrigo aqui. Só um resistiu até o fim. O capitão Elias Monroe. Dizem que ele ainda guarda a casa, esperando a guerra acabar de verdade.”

Alguns riam. Outros se benziam. Mas todos, ao sair, olhavam para trás — e juravam ver uma sombra entre as colunas brancas.

Capítulo 10 – A Eternidade em Algodão
O tempo levou tudo — exércitos, glórias, memórias. Mas o campo de algodão ainda floresce. E nas manhãs em que o vento sopra do sul, o branco das flores parece cobrir o solo como lençol de fantasmas. Entre as ruínas da velha casa, a bandeira azul ainda tremula, desbotada, insistente.

Dizem que em certas madrugadas, quando o céu se cobre de névoa, pode-se ouvir o som de um canhão distante, um cavalo galopando, e uma voz firme ordenando: “Fiquem em suas posições, homens. Esta casa não cairá.”

E, por um instante, o mundo parece lembrar o preço do que chamamos de honra.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

A Floresta Maldita

Jim Fallon (Kirk Douglas) é um madeireiro astuto e falastrão que após ter vários problemas na costa leste resolve ir até as fronteiras do oeste selvagem em busca de novas florestas para devastar e fazer fortuna. Chegando na Califórnia ele encontra uma rica reserva natural, mas encontra obstáculos para colocar as mãos em toda a matéria prima pois a terra é disputada por madeireiros rivais e um grupo religioso que pretende preservar as milenares árvores do local. Se fazendo passar por um rico milionário que quer apenas preservar a rica floresta ele acaba conseguindo finalmente a posse da mata. Depois ele terá que escolher entre explorar comercialmente a madeira do local ou ouvir sua consciência deixando intacta a floresta e suas árvores suntuosas e majestosas. Esse “A Floresta Maldita” tem um roteiro ecológico, e isso muitas décadas antes da ecologia virar moda. Claro que a consciência de se preservar as florestas não tem a mesma abrangência do que atualmente se vê, mas mesmo assim o roteiro tenta de todas as formas mostrar que também é importante preservar a riqueza natural por sua importância para as futuras gerações. Afinal, se toda aquela floresta for derrubada, não haverá mais nada a se explorar ou ver nos anos futuros.

Embora seja um filme muito bem intencionado nesse aspecto, “A Floresta Maldita” também apresenta problemas. Em vários momentos a estória se torna truncada e mal desenvolvida, há um excesso de detalhes jurídicos envolvendo a trama que só a torna cansativa e arrastada. O roteiro perde muito potencial discutindo quem seria o verdadeiro possuidor da floresta e quem teria o direito de explorar toda aquela madeira. O personagem de Kirk Douglas, por exemplo, passa quase todo o tempo tentando driblar a lei, forjando documentos falsos ou então elaborando novas fraudes para tomar conta de tudo. Isso acaba deixando o ritmo um pouco arrastado e repetitivo.

As coisas de fato só melhoram mesmo quando o filme finalmente vai se aproximando de seu final. A questão jurídica é deixada de lado para apostar em boas cenas de ação. Na melhor delas o personagem de Kirk Douglas, tal como um Indiana Jones do faroeste, pula em cima de um trem em movimento que caminha para o abismo. Sua intenção é salvar a mocinha, separar o vagão onde ela está do restante da locomotiva e parar o mesmo, antes que atravesse uma ponte de madeira sabotada!  Ufa! Cenas como essas literalmente salvam o filme da primeira parte mais arrastada. No saldo final poderia realmente ser bem melhor, mas do jeito que está, até que diverte, apesar de alguns erros. Fica então a recomendação para os cinéfilos fãs do bom e velho Kirk Douglas. 

A Floresta Maldita (The Big Trees, Estados Unidos, 1952) Direção: Felix E. Feist / Roteiro: John Twist, James R. Webb / Elenco: Kirk Douglas, Eve Miller, Patrice Wymore / Sinopse: Inescrupuloso e ganancioso madeireiro vai até a Califórnia com o objetivo de devastar uma rica floresta local. A tarefa porém não será nada fácil pois ele terá que enfrentar um grupo religioso que luta pela preservação da natureza e comerciantes de madeira rivais.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Gary Cooper - Biografia


Gary Cooper

Biografia
Gary Cooper nasceu em 7 de maio de 1901, em Helena, no estado de Montana, Estados Unidos. Seu nome de batismo era Frank James Cooper. Filho de pais ingleses, passou parte da infância estudando na Inglaterra antes de retornar aos EUA. Após tentar a carreira de ilustrador e trabalhar em um rancho, mudou-se para Los Angeles, onde começou a trabalhar como figurante em filmes mudos. Sua aparência rústica, o carisma natural e o jeito reservado logo chamaram a atenção dos produtores.

Estréia no cinema – Primeiros filmes
Cooper iniciou sua carreira cinematográfica no final da década de 1920, atuando como figurante em produções de faroeste. Seu primeiro papel de destaque foi em O Álamo – O Despertar de uma Nação (The Winning of Barbara Worth, 1926), ao lado de Ronald Colman e Vilma Banky. O sucesso do filme lhe abriu as portas para papéis maiores nos anos seguintes, já na era do cinema sonoro.

Auge e sucesso em Hollywood
Durante as décadas de 1930 a 1950, Gary Cooper consolidou-se como um dos maiores astros de Hollywood. Sua persona cinematográfica era a do homem íntegro, corajoso e de fala calma — um verdadeiro símbolo do herói americano. Atuou em dramas, romances e, principalmente, em faroestes, gênero no qual se destacou por papéis que valorizavam a honra e o dever moral.

Principais filmes da carreira

  • Sargento York (Sergeant York, 1941)

  • A Mulher Faz o Homem (Mr. Deeds Goes to Town, 1936)

  • Por Quem os Sinos Dobram (For Whom the Bell Tolls, 1943)

  • Matar ou Morrer (High Noon, 1952)

  • Adeus às Armas (A Farewell to Arms, 1932)

  • O Galante Aventureiro (Beau Geste, 1939)

  • O Ídolo de Cristal (The Pride of the Yankees, 1942)

  • O Homem do Oeste (Man of the West, 1958)

Últimos filmes
Nos últimos anos de sua carreira, Cooper enfrentou problemas de saúde, mas continuou atuando. Seus últimos trabalhos incluem O Homem do Oeste (Man of the West, 1958) e O Prêmio (The Naked Edge, 1961), lançado após sua morte.

Filmes de western estrelados por Gary Cooper

  • O Álamo – O Despertar de uma Nação (The Winning of Barbara Worth, 1926)

  • A Legião do Deserto (The Plainsman, 1936)

  • A História de Frank James (The Westerner, 1940)

  • Rio Vermelho (Along Came Jones, 1945)

  • Matar ou Morrer (High Noon, 1952)

  • O Homem do Oeste (Man of the West, 1958)

  • Dallas, Cidade do Ódio (Dallas, 1950)

  • Vera Cruz (Vera Cruz, 1954)

Vida Pessoal
Gary Cooper casou-se em 1933 com Veronica Balfe (conhecida como Sandra Shaw), uma socialite e atriz ocasional. O casal teve uma filha, Maria Cooper. Apesar da imagem pública de homem íntegro, Cooper teve relacionamentos extraconjugais notórios com atrizes como Clara Bow, Lupe Vélez e Patricia Neal. Era conhecido por sua discrição e vida reservada fora dos estúdios.

Morte do ator
Gary Cooper faleceu em 13 de maio de 1961, em Beverly Hills, Califórnia, vítima de câncer de próstata, apenas seis dias após completar 60 anos. Sua morte causou grande comoção em Hollywood e entre o público, sendo lembrado como um dos últimos símbolos da era de ouro do cinema clássico americano.

Prêmios e Reconhecimentos

  • Oscar de Melhor Ator por Sargento York (1941)

  • Oscar de Melhor Ator por Matar ou Morrer (1952)

  • Oscar Honorário (1961) pelo conjunto da obra

  • Globo de Ouro de Melhor Ator por Matar ou Morrer (1952)

  • Estrela na Calçada da Fama de Hollywood

Legado
Gary Cooper é lembrado como um dos maiores ícones da história do cinema americano. Sua atuação contida, natural e carismática influenciou gerações de atores, incluindo Clint Eastwood e Kevin Costner. Representou, em seus papéis, o ideal do herói americano — corajoso, justo e de princípios firmes. Até hoje, é símbolo do faroeste clássico e do cinema de integridade moral e simplicidade.

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Gary Cooper - Cronologia


Cronologia – Gary Cooper

1901 – Nasce em 7 de maio, em Helena, Montana (EUA), com o nome de Frank James Cooper.

1910–1912 – Muda-se para a Inglaterra, onde estuda por alguns anos.

1914 – Retorna aos Estados Unidos e cresce em um rancho em Montana, desenvolvendo gosto por cavalos e o ambiente rural — algo que marcaria sua carreira nos faroestes.

1924 – Muda-se para Los Angeles e começa a trabalhar como figurante em filmes mudos, especialmente em produções de faroeste.

1926 – Ganha destaque em O Álamo – O Despertar de uma Nação (The Winning of Barbara Worth), tornando-se conhecido em Hollywood.

1929 – Torna-se astro com o sucesso de Asas (Wings), primeiro filme a ganhar o Oscar de Melhor Filme.

1930–1935 – Consolida sua carreira com filmes de aventura e romance, como Marrocos (Morocco, 1930), ao lado de Marlene Dietrich, e Adeus às Armas (A Farewell to Arms, 1932).

1936 – Estoura como astro com A Mulher Faz o Homem (Mr. Deeds Goes to Town), de Frank Capra, que o transforma em símbolo do americano idealista.

1939 – Brilha em O Galante Aventureiro (Beau Geste) e firma-se como um dos atores mais respeitados de Hollywood.

1941 – Vence seu primeiro Oscar de Melhor Ator por Sargento York (Sergeant York).

1942 – Interpreta Lou Gehrig em O Ídolo de Cristal (The Pride of the Yankees), papel aclamado pela crítica.

1943 – É indicado novamente ao Oscar por Por Quem os Sinos Dobram (For Whom the Bell Tolls), baseado no romance de Ernest Hemingway.

1952 – Ganha o segundo Oscar de Melhor Ator por Matar ou Morrer (High Noon), um dos faroestes mais importantes da história do cinema.

1954 – Atua ao lado de Burt Lancaster em Vera Cruz, clássico do western dirigido por Robert Aldrich.

1958 – Protagoniza O Homem do Oeste (Man of the West), considerado seu último grande faroeste.

1960 – Recebe um Oscar Honorário pelo conjunto da obra, entregue por James Stewart em uma cerimônia marcada pela emoção.

1961 – Morre em 13 de maio, aos 60 anos, em Beverly Hills, vítima de câncer de próstata.

Pós-1961 – Sua imagem permanece como símbolo do herói americano clássico, sendo reverenciado por críticos, historiadores e colegas do cinema.

terça-feira, 14 de outubro de 2025

Gary Cooper - Curiosidades


Curiosidades sobre Gary Cooper
  1. Nome artístico acidental – Seu nome verdadeiro era Frank James Cooper, mas adotou “Gary” por sugestão de um amigo que o comparou aos homens durões de Gary, Indiana.

  2. Começo como dublê de cavalo – Antes de ser astro, Cooper começou como figurante e dublê em cenas de cavalgadas e quedas em filmes de faroeste. Seu talento com cavalos e postura natural o destacaram entre dezenas de aspirantes.

  3. Estilo minimalista de atuação – Cooper ficou conhecido por atuar com poucos gestos e falas curtas. Essa forma contida e autêntica de interpretar influenciou atores como Clint Eastwood, James Stewart e Kevin Costner.

  4. Amigo de Ernest Hemingway – Era grande amigo do escritor Ernest Hemingway, que o admirava e se inspirou nele para personagens masculinos de suas obras. Cooper, por sua vez, estrelou Por Quem os Sinos Dobram, adaptação de um dos romances mais famosos de Hemingway.

  5. Ídolo de John Wayne – John Wayne considerava Cooper um de seus maiores modelos. Quando Cooper adoeceu, Wayne recebeu o Oscar honorário em seu nome, emocionado e com lágrimas nos olhos.

  6. Figura reservada fora das telas – Apesar de ser um dos maiores galãs de Hollywood, Cooper evitava festas e vida noturna. Era descrito como tímido, introspectivo e avesso ao estrelato.

  7. Relações amorosas marcantes – Teve romances com estrelas como Clara Bow, Marlene Dietrich, Lupe Vélez e Patricia Neal. O caso com Neal, inclusive, abalou seu casamento e foi amplamente noticiado na época.

  8. Amor pela natureza – Cooper amava caçar, pescar e cavalgar. Costumava passar meses em seu rancho em Sun Valley, Idaho, longe da agitação de Hollywood.

  9. Herói de guerra “não oficial” – Embora não tenha servido nas Forças Armadas, foi tão identificado com o ideal americano durante a Segunda Guerra Mundial que recebeu homenagens de veteranos e até de generais norte-americanos.

  10. Influência duradoura – Sua postura firme, o jeito calmo e a moral inabalável o transformaram em um arquétipo do herói americano. Décadas depois, diretores como Fred Zinnemann e Clint Eastwood citaram-no como referência direta na construção de personagens do faroeste moderno.

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

A Lei da Fronteira

Título no Brasil: A Lei da Fronteira
Título Original: Frontier Marshal
Ano de Produção: 1939
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Allan Dwan
Roteiro: Stuart N. Lake, Sam Hellman
Elenco: Randolph Scott, Nancy Kelly, Cesar Romero

Sinopse:
Tombstone é uma cidade infestada de bandidos. Conhecida por ser uma terra sem lei, a região acaba se tornando ponto de encontro de assassinos, assaltantes de trem e facínoras em geral. Aterrorizados, os cidadãos de bem do local resolvem eleger um novo xerife! Para a função terá que ser escolhido alguém realmente rápido no gatilho, que esteja disposto a enfrentar o crime sem medo, pois não será fácil limpar toda aquela sujeira. A escolha acaba caindo nos ombros de Wyatt Earp (Randolph Scott) que está disposto a impor a lei e a ordem novamente na pequena Tombstone. 

Comentários:
Esse é certamente um dos mais clássicos filmes da carreira de Randolph Scott. Não poderia ser diferente, afinal de contas ele interpreta o lendário xerife e homem da lei Wyatt Earp! A junção desses dois mitos não poderia resultar em nada menos do que memorável. Curiosamente, apesar de ser reconhecidamente um dos melhores filmes já feitos sobre o tiroteio do O.K. Corral, o roteiro toma certas liberdades com a história real. Só para citar a mais famosa delas, aqui temos a morte de Doc Halliday (Cesar Romero), que antecede o famoso confronto entre Earp e os bandoleiros no famoso curral de Tombstone. Na história real Doc não morreu como mostrado no filme, pelo contrário, ele vai até o O.K. para enfrentar ao lado de Earp todo o bando de criminosos naquele que, até hoje, é considerado o maior duelo da história do velho oeste. Isso porém não desmerece as qualidades de um western clássico que é extremamente bem realizado. Randolph Scott está perfeito em seu papel e até mesmo Cesar Romero convence plenamente como Doc, o dentista jogador e tuberculoso que se tornou um dos mais conhecidos pistoleiros da mitologia do western americano. Mais um exemplo do talento do subestimado cineasta Allan Dwan. Em suma, um título para se ter na coleção, assim você poderá sempre rever o mito Randolph Scott na pele do mais famoso xerife de todos os tempos.

Pablo Aluísio.

sábado, 11 de outubro de 2025

Randolph Scott (1898–1987)


Randolph Scott (1898–1987) foi um dos grandes nomes do cinema americano, especialmente nos far west, gênero no qual construiu praticamente toda a sua carreira e que o transformou em um ícone da cultura popular.

Morte

Scott faleceu em 2 de março de 1987, aos 89 anos, em Beverly Hills, Califórnia. A causa oficial da morte foi insuficiência cardíaca. Ele já estava afastado das telas havia mais de 20 anos, vivendo discretamente com a esposa, Patricia Stillman, com quem foi casado por mais de quatro décadas.

Legado como ator

O legado de Randolph Scott é marcante sobretudo dentro do cinema de faroeste:

  • Ícone do western clássico: Entre as décadas de 1930 e 1960, participou de mais de 60 filmes do gênero, consolidando uma imagem de herói justo, lacônico e moralmente íntegro.

  • Parceria com Budd Boetticher: Seus filmes dirigidos por Boetticher nos anos 1950 (como Seven Men from Now / Sete Homens sem Destino e The Tall T / Cavalgada Trágica) são considerados obras-primas do western enxuto, com forte influência posterior no cinema de Sam Peckinpah e Clint Eastwood.

  • Estilo de atuação: Diferente de astros mais expansivos como John Wayne, Scott era econômico, transmitindo firmeza, sobriedade e uma certa melancolia, o que deu profundidade aos seus personagens.

  • Símbolo da transição do western: Sua carreira acompanhou a evolução do gênero, desde os faroestes clássicos mais “românticos” até os mais sombrios e psicológicos dos anos 1950.

  • Respeito crítico tardio: Embora por muito tempo visto apenas como astro popular, com o tempo sua filmografia passou a ser reavaliada pela crítica como uma das mais consistentes do western americano.

Assim, Randolph Scott é lembrado como um dos grandes cowboys do cinema, referência para gerações posteriores e figura essencial para entender a construção do mito do Oeste na cultura dos EUA.


Filmografia Completa Randolph Scott

Década de 1920:
Rumo ao Amor (1928)
O Lobo da Bolsa (1929)
Regeneração (1929)
Ver Para Crer (1929)
A Voz da Terra Mater (1929)
A Guarda Negra (1929)
Amores de Folga (1929)
Ilusão (1929)
Agora ou Nunca (1929)
Dinamite (1929)

Década de 1930:
Galanteador Audaz (1930)
Esposas Alegres (1931)
A Noiva do Céu (1932)
Manias de Gente Rica (1932)
A Herança do Deserto (1932)
Sábado Alegre (1932)
Audácia entre Adversários (1932)
Hellim Everybody! (1932)
Maldade (1932)
Vingança Diabólica (1932)
Anjo e Demônio (1932)
Na Pista do Criminoso (1932)
A Hota do Coquetel (1932)
O Homem da Floresta (1932)
Rixa Antiga (1932)
Sonhos Desfeitos (1932)
O Último Assalto (1934)
Amor em Trânsito (1934)
Perigo á Frente (1935)
O Inválido Poderoso (1935)
Roberta (1935)
Noivado na Guerra (1935)
Escândalo na Aldeia (1935)
Ella - A Feiticeira (1935)
Pirate Party on Catalina Island (1935)
Nas Águas da Esquadra (1936)

Continua...

Pesquisa: Pablo Aluísio.