terça-feira, 30 de dezembro de 2025

O Pistoleiro do Wyoming

Título no Brasil: O Pistoleiro do Wyoming
Título Original: Wyoming Outlaw
Ano de Produção: 1939
País: Estados Unidos
Estúdio: Republic Pictures
Direção: George Sherman
Roteiro: Jack Natteford, Betty Burbridge
Elenco: John Wayne, Don 'Red' Barry, Ray Corrigan, Raymond Hatton

Sinopse:
Will Parker (Don 'Red' Barry) é um rancheiro do Wyoming que devido ao hostil clima da região acaba perdendo toda a sua safra. Desesperado para alimentar seus familiares ele se une a um bando de ladrões de gado. Após um confronto é capturado e preso mas ele não se dá por vencido e foge da prisão, começando uma verdadeira caçada para capturá-lo. Roteiro levemente inspirado em fatos reais.

Comentários:
Filme da Republic Pictures que conta em seu elenco com o famoso John Wayne. Infelizmente os fãs do Duke não precisam ficar muito eufóricos pois o filme não gira em torno do mais famoso cowboy da sétima arte. Na verdade seu personagem, Stony Brooke, é bem secundário. Quem for assistir a esse filme pensando em Wayne certamente se decepcionará por essa razão. No geral é um filme B, feito especialmente para matinês, muito curtinho e rápido que vai direto ao ponto. É um bangue-bangue tradicional, sem maiores surpresas. O roteiro ainda ensaia um pouco mais de capricho no que diz respeito ao personagem principal, um rancheiro que entra para o mundo do crime por necessidade, mas não vai muito adiante em relação a isso. Wayne surge com um figurino que lembra bastante o ídolo Tom Mix, com um enorme chapéu branco, além de roupas claras, impecáveis para quem vive no velho oeste americano. Enfim, coisas de Hollywood da época. Em suma, um faroeste da velha escola que mesmo sendo de rotina segue sendo lembrado por causa da presença do imortal John Wayne.

Pablo Aluísio.

Os Filmes de Faroeste de John Wayne - Parte 12

O filme "Paraíso dos Falsários" (Paradise Canyon) foi dirigido pelo cineasta Carl Pierson. Johw Wayne aqui contracenou com um elenco muito bom, com destaque para as participações de Marion Burns e Reed Howes. Realizado pelo produtor Paul Malvern, o filme era tipicamente uma produção para as matinês de sábado, com uma curta duração de apenas 57 minutos! Um bangue-bangue rápido, voltado principalmente para os mais jovens e crianças.

A sinopse era bem simples: Um agente secreto do governo era enviado para prender uma gangue de falsificadores que operavam perto da fronteira mexicana. John Wayne interpretava esse agente especial chamado John Wyatt. Porém para não ser descoberto pelos bandidos ele chegava na distante cidade de fronteira usando o nome falso de John Rogers. No começo das filmagens ocorreu um fato engraçado. O roteirista queria usar o nome de John Wayne no próprio filme. Seria o nome usado do agente para despistar os falsificadores. Só que Wayne achou a ideia realmente péssima e mandou ele procurar por outro nome. "Essa é uma ideia estúpida!" - Disse o velho cowboy para o pobre roteirista. Ficou John Rogers mesmo.

No filme seguinte John Wayne voltou a trabalhar com o diretor Robert N. Bradbury. Nessa fase de sua carreira esse cineasta foi quem mais dirigiu Wayne em seus faroestes. É curioso que depois que Wayne foi para a Paramount e outros grandes estúdios de Hollywood trabalhar em filmes mais bem elaborados, ele não tenha pensado em levar esse velho parceiro, dos velhos tempos, para dirigir algum de seus novos filmes. De uma maneira ou outra eles trabalharam juntos com frequência - e trabalharam bem, produzindo bons filmes de matinês.

Essa nova produção se chamava "Da Derrota à Vitória" (Westward Ho). John Wayne interpretou basicamente o mesmo personagem do filme anterior, chamado John Wyatt. Só que agora seu objetivo era a vingança. No passado seu pai foi morto por criminosos. E seu irmão foi levado como réfem. Décadas depois Wayne reencontra seu irmão, agora já um homem adulto, em um trem rumo ao oeste. O problema é que ele não tem mais memórias do passado e está agora trabalhando ao lado dos mesmos bandidos que  mataram seu pai. Com bom roteiro esse foi um dos faroestes mais interessantes dessa época na filmografia de John Wayne.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

Crônicas do Velho Oeste

Crônicas do Velho Oeste
Lanço nesse final de ano um livro com material de western, algo que está cada vez mais raro de encontrar em nosso país. Uma seleção especial trazendo os melhores filmes da carreira do ator John Wayne. E não é só. Essa edição ainda traz histórias de western, todas se passando no velho oeste americano. Uma coletânea de contos de faroeste. São 179 páginas com muito faroeste para o leitor! Abaixo segue os links para compra dessa edição. 

Crônicas do Velho Oeste (Pablo Aluísio) pode ser adquirido clicando nos links abaixo. 



segunda-feira, 22 de dezembro de 2025

Os Brutos Também Amam

Os Brutos Também Amam
Quando eu era garoto, ouvi certa vez meu pai dizer que o filme "Os Brutos Também Amam" (Shane - 1953) era um faroeste diferente. Aquela opinião ficou anos martelando em minha cabeça. E, quando alguns anos mais tarde, assisti ao famoso western, concordei com meu pai. O clássico, baseado no best-seller de Jack Schaefer, é um dos maiores e mais emocionantes faroestes já produzidos. E o sucesso não foi à toa. "Shane" é um faroeste realmente diferente e emocionante que foi pensado e carinhosamente engendrado em cima de valores morais raros para aquela época, como: amizade, lealdade e honra. O início do filme é de uma beleza rara, onde a natureza exuberante faz as honras da casa, desfilando, um a um, os astros do filme. O silencioso Shane (Alan Ladd) abre o clássico cavalgando, lentamente, sob as bençãos e a beleza indizível da cordilheira de Grand Tetons no Vale do Wyoming. O forasteiro, solitário e caladão, chega bem devagar ao pequeno rancho parnasiano da família Starrett, tendo como testemunha o pequeno par de olhos curiosos do pequeno Joey Starrett (Brandon De Wilde). Shane é calado e de poucas palavras - ele fala apenas o que interessa deixando sempre no ar um duvidoso passado do qual está claramente tentando esquecer. Apesar da enorme introspecção e doses cavalares de mistério, Shane só quer um pouco de água, comida e descanso, em troca de trabalho.

Aos poucos, o pistoleiro, semelhante a um diácono, vai conquistando a amizade e a confiança da família Starrett, mas principalmente do pequeno Joey que se encanta pelo forasteiro. Em pouco tempo, Shane já é quase um membro da família, ajudando o patriarca Joe Starrett (Van Heflin) nos trabalhos mais pesados, e também nas horas vagas, ajudando o pequeno Joe a atirar. O carisma e o charme do pistoleiro vão encantando Marian Starrett (Jean Arthur) esposa de Joe que aos poucos vai manifestando pelo pistoleiro, um misto de paixão, admiração e curiosidade. O diretor George Stevens conduz com maestria essa troca de olhares - e até de sentimentos - porém, sempre preservando o sentimento de honestidade e lealdade de Shane para aquela pequena família que o acolheu, mas principalmente para seu amigo, Joe Starrett. O filme jorra lirismo por todos os poros.

Todo esse céu de brigadeiro, no entanto, começa a mudar quando a família Starrett recebe a visita de Rufus Ryker (Emile Meyer) e seu bando. Rufus, que é o Barão do gado da região, tenta convencer Joe a vender suas terras e ir embora. Porém, quando percebe que Joe tornara-se amigo de um pistoleiro (Shane), ele e seu bando vão embora. A partir daí o conflito entre o Barão do gado, Rufus Ryker, e os colonos, explode. O Barão, para garantir o seu monopólio do gado e sentindo-se ameaçado por Shane, manda buscar na cidade de Cheyenne o pistoleiro frio e sanguinário, Jack Wilson (Jack Palance). Shane então, resolve despir-se de suas vestes de homem bom e de família e começa a mostrar a sua cara. Os acontecimentos e escaramuças da bandidagem, o colocará frente a frente com o seu velho conhecido e implacável Jack Wilson num duelo inesquecível. O final é emocionante e mostra toda a categoria de um diretor que, alguns anos depois, dirigiria três mitos: James Dean, Liz Taylor e Rock Hudson, no clássico, "Assim Caminha a Humanidade". E, com relação a Shane...meu pai tinha toda a razão.

Os Brutos Também Amam (Shane, EUA, 1953) Direção: George Stevens / Roteiro: A.B. Guthrie Jr, Jack Sher baseado na obra de Jack Schaefer / Elenco: Alan Ladd, Jean Arthur, Jack Palance, Van Heflin, Ben Johnson, Elisha Cook Jr., Brandon de Wilde / Sinopse: Shane (Allan Ladd) é um cowboy errante e solitário que chega num pequeno rancho e conquista a amizade dos moradores locais, incluindo uma bela jovem e um garoto.

Telmo Vilela Jr.

terça-feira, 16 de dezembro de 2025

Abutres Humanos

Abutres Humanos
Western estrelado por Alan Ladd, ator que foi muito popular em sua época, inclusive no Brasil. A história contada pelo filme é bem interessante. Durante a expansão das estradas de ferro rumo ao oeste americano, sabotagens e crimes envolvendo roubos de cargas das ferrovias eram comuns. Para solucionar esse tipo de problema as grandes empresas contratavam seguranças e homens treinados para lidar com esse tipo de situação. Whispering Smith (Alan Ladd) é um desses "especialistas". Rápido no gatilho e com faro para mistérios, ele chega no distante Colorado para desvendar uma série de ataques contra a ferrovia. A investigação aponta para Murray Sinclair (Robert Preston), o que para Smith não é um bom sinal, pois ele tem sentimentos pela esposa de sujeito, a bela Marian Sinclair (Brenda Marshall).

Alan Ladd começou a virar um astro do western justamente nesse movimentado "Whispering Smith". Embora tenha sido realizado no final dos anos 1940 a Paramount farejando sucesso de bilheteria resolveu bancar a produção em cores - algo que era bem caro e dispendiosa na época.  Alan Ladd se mostra bem carismático em seu papel, principalmente quando vestido todo de negro, em um cavalo puro sangue, dispara em perseguição contra os bandidos no meio do deserto.

Esse filme é uma ótima diversão nostálgica para quem aprecia bang-bang. Os vilões são todos seres indigestos, corruptos, ladrões e assassinos que roubam os trens usando máscaras cobrindo seus rostos. Há ótimas cenas de perseguição aos trens,  descarrilamentos de vagões e roubos de gado, que geralmente eram transportados nessas antigas máquinas a vapor. Quando em seu lançamento a Paramount não mediu esforços e divulgou bastante o filme, o tornando um sucesso popular. O próprio estúdio nem se fez de rogado e promoveu o faroeste justamente assim, como um "entretenimento popular para o homem comum em busca de diversão". Bom, não podemos mesmo discordar dos publicitários do estúdio pois essa frase resume bem esse "Abutres Humanos", em caso raro de bom título nacional.

Abutres Humanos (Whispering Smith, Estados Unidos, 1948) Estúdio: Paramount Pictures / Direção: Leslie Fenton / Roteiro: Frank Butler, Karl Kamb / Elenco: Alan Ladd, Robert Preston, Brenda Marshall / Sinopse: Whispering Smith (Alan Ladd) é o funcionário de um companhia ferroviária que precisa lidar com criminosos e bandidos de toda espécie. Filme indicado ao Writers Guild of America.  

Pablo Aluísio.


Filmografia Western - Alan Ladd


Filmografia Western - Alan Ladd
Abutres Humanos
Os Brutos Também Amam
Pacto de Honra
Rajadas de Ódio
Encontro com o Diabo
O Rebelde Orgulhoso
Homens das Terras Bravas
Gigantes em Luta
A Senda do Ódio

Pesquisa: Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

Onde Impera a Traição

Título no Brasil: Onde Impera a Traição
Título Original: The Duel at Silver Creek
Ano de Produção: 1952
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Don Siegel
Roteiro: Gerald Drayson Adams
Elenco: Audie Murphy, Faith Domergue, Stephen McNally, Susan Cabot, Gerald Mohr, Eugene Iglesias

Sinopse:
O cowboy e pistoleiro Luke Cromwell (Audie Murphy), também conhecido como "The Silver Kid" resolve se unir ao xerife Lightning Tyrone (Stephen McNally) para defender uma pequena cidade do velho oeste de uma quadrilha de bandoleiros, assassinos e saqueadores violentos e cruéis.

Comentários:
Esse filme tem alguns aspectos importantes. O primeiro deles é que foi dirigido pelo ótimo cineasta Don Siegel. Nesses últimos anos ele tem sido considerado um dos melhores diretores de faroeste da história por críticos de cinema e historiadores de arte. Um verdadeiro artesão da sétima arte. Segundo, o filme foi roteirizado por Gerald Drayson Adams, que era escritor, autor de livros romanceados com histórias que se passavam justamente no velho oeste, ou seja, ele entendia bem do tema que era a base de seu roteiro. Por fim essa foi uma das produções comerciais mais bem sucedidas da carreira do astro Audie Murphy. Ele não era ator de profissão, mas sim um veterano condecorado na II Guerra Mundial. Por isso a Universal ainda tinha dúvidas se ele poderia dar certo no cinema. Acabou dando, como foi bem provado pelos números alcançados nas bilheterias da época. E ele acabou se tornando um dos cowboys mais queridos da mitologia do faroeste no cinema. Talvez por ter morrido precocemente, sua fama ficou intacta, gerando nostalgia e Alegria para o seu grande fã clube, inclusive no Brasil, onde sempre foi um ator muito querido dos fãs de filmes de western.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

O Último Duelo

Título no Brasil: O Último Duelo
Título Original: The Cimarron Kid
Ano de Produção: 1952
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Budd Boetticher
Roteiro: Louis Stevens
Elenco: Audie Murphy, Beverly Tyler, James Best
  
Sinopse:
Bill Doolin (Audie Murphy) é um jovem acusado injustamente de roubo por funcionários corruptos da estrada de ferro. Revoltado pelas falsas acusações e perseguido por homens da lei, ele não vê outra alternativa a não ser se juntar à quadrilha dos Daltons, velhos amigos de longa data. Como pistoleiro acaba adotando o nome de The Cimarron Kid. Em pouco tempo sua destreza no gatilho o torna um nome conhecido. O problema é que outro membro de sua própria gangue resolve lhe trair, o que o deixa em uma situação delicada. Fugitivo, ele sonha em se esconder em algum país da América do Sul ou no México para tentar recomeçar sua vida ao lado da mulher que ama.

Comentários:
Budd Boetticher foi um dos mestres do western americano nos anos 1950. Dono de um estilo muito eficiente de rodar filmes baratos, mas bem cuidados, Boetticher conseguiu o reconhecimento dos fãs do gênero. Ao longo de várias décadas trabalhou ao lado de grandes nomes do faroeste como Randolph Scott. Aqui ele dirigiu outro astro dos filmes de bang bang, o veterano da Segunda Guerra Mundial Audie Murphy. As portas de Hollywood foram abertas porque ele foi um herói de guerra, o militar mais condecorado desse conflito sangrento que varreu o mundo na década de 1940. De volta à vida civil viu no cinema uma oportunidade de fazer carreira e contou com a sorte de ser dirigido por grandes cineastas como o próprio Budd Boetticher. Ao longo dos anos a Universal o escalou para uma série de filmes de western, sendo algumas produções B, que tinham como objetivo testar sua força nas bilheterias. Depois de interpretar Jesse James em "Cavaleiros da Bandeira Negra" e ter um belo sucesso com "A Glória de um Covarde" o estúdio finalmente se convenceu que tinha um astro em mãos. Assim "O Último Duelo" só confirmaria ainda mais a estrela de Murphy. Um bom western que realmente não fica nada a dever aos bons faroestes de sua época.

Pablo Aluísio.

Filmografia Audie Murphy


Filmografia Audie Murphy
Viver Sonhando
Código de Honra
Caminho da Perdição
Duelo Sangrento
Serras Sangrentas
Cavaleiros da Bandeira Negra
A Glória de um Covarde
O Último Duelo
Onde Impera a Traição
A Morte Tem Seu Preço
Jornada Sangrenta
A Ronda da Vingança
Traição Cruel
Tambores da Morte
Antro da Perdição
Terrível como o Inferno
Um Mundo Entre Contas
Honra de Selvagem
O Renegado do Forte Petticoat
A Rosa do Oriente
A Passagem da Noite
O Americano Tranquilo
Contrabando de Armas
Na Rota dos Proscritos
Balas que Não Erram
Antro de Desalmados
Um Homem contra o Destino
Com o Dedo no Gatilho
O Passado Não Perdoa
Matar por Dever
Quadrilha do Inferno
Sangue na Praia
War is Hell
Gatilhos em Duelo
Abatendo um a um
Fúria de Brutos
Pistoleiro Relâmpago
Balas para um Bandido
Rifles Apaches
Bandoleiros do Arizona
Missão Secreta no Cairo
Matar ou Cair
O Bandoleiro Temerário
Os Rifles da Desforra
Gatilhos da Violência

Obs: Em Negrito temos os filmes que já contam com review em nosso blog Cine Western. 

Pesquisa: Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

Clint Eastwood e o Western - Parte 5

Clint Eastwood e o Western - Parte 5
Em time que se está ganhando não se mexe. Assim Clint Eastwood voltou para a Europa para filmar um segundo filme com o mestre Sergio Leone. O filme iria se intitular "Por Uns Dólares a Mais". O diretor queria filmar uma trilogia de western, mas para isso esse segundo faroeste teria que ser bem sucedido nas bilheterias. Para tanto o estúdio estava disposto a investir bem, contratando outro ator americano. Era Charles Bronson. Só que as negociações não foram boas. 

Bronson pediu um cachê maior do que o próprio Clint Eastwood. Quando viu que não seria atendido nesse aspecto começou a criar problemas com a produção. Disse que o roteiro estava mal escrito, que a história era confusa e que dessa forma o filme não iria chegar a lugar nenhum. Sergio Leone queria muito Bronson no filme para interpretar um dos vilões, mas os problemas colocados por ele foram tantos que acabou desistindo. Com isso os produtores desligaram Bronson do projeto. Ele foi avisado por carta que não faria mais parte do elenco. 

Em seu lugar foi contratado o ator Gian Maria Volonté. Foi uma decisão mais do que acertada. Sua interpretação do vilão El Indio foi tão marcante que ele chegou a ser indicado a prêmios de melhor ator coadjuvante. Seu trabalho até hoje em dia é frequentemente citado como um dos melhores antagonistas de todos os filmes de spaghetti westerns que já foram feitos na história. Outro acerto da escolha do elenco foi Lee Van Cleef. Ele interpretou o personagem do Coronel Mortimer. Em pouco tempo ele estaria estrelando sua própria linha de filmes italianos de faroeste, todos com grande sucesso de bilheteria. 

Durante as filmagens começaram certos atritos entre Clint Eastwood e o diretor Sergio Leone. Clint reconhecia Leone como um diretor genial, um estilista revolucionário do gênero.
Mas, ao mesmo tempo, os dois tinham conflitos sobre os caminhos que o filme deveria seguir. Leone queria personagens mais exagerados, quase operísticos. Eastwood preferia um estilo contido, silencioso, minimalista. Eastwood também achava que Leone às vezes exagerava na duração de algumas cenas. Em determinado momento Clint entendeu que ele deveria tomar a direção de seu próprio personagem. O ator comprou pessoalmente as roupas que iria usar no filme e passou a atuar de acordo com sua visão do filme e não a do diretor Leone. 

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Por uns Dólares a Mais

Título no Brasil: Por uns Dólares a Mais
Título Original: Per Qualche Dollaro in Più
Ano de Produção: 1965
País: Itália, Espanha, Alemanha
Estúdio: Constantin Film Produktion, Produzioni Europee Associati
Direção: Sergio Leone
Roteiro: Sergio Leone, Fulvio Morsella
Elenco: Clint Eastwood, Lee Van Cleef, Gian Maria Volonté

Sinopse:
Monco (Clint Eastwood) e Mortimer (Lee Van Cleef) são dois caçadores de recompensas no velho oeste que acabam indo atrás do mesmo criminoso, El Indio (Gian Maria Volonté), cuja oferta por sua captura vivo ou morto é avaliada em dez mil dólares! Pistoleiro, psicopata, estuprador e muito violento, El Indio planeja ao lado de sua quadrilha um grande roubo de banco na cidade de El Paso. Ele conseguiu ter acesso a informações privilegiadas sobre o cofre da instituição e pretende roubar uma pequena fortuna de sua sede, mas antes disso terá que se livrar daqueles que querem sua cabeça em troca do valioso prêmio a ser dado como recompensa a quem conseguir lhe tirar de circulação.

Comentários:
A frase que abre o filme, "Onde a vida não tem valor, a morte, ás vezes tem seu preço. É por isso que os caçadores de recompensas apareceram", resume bem a tônica dessa produção. Considerado um dos maiores clássicos do assim chamado western spaguetti, "Por uns Dólares a Mais" surge em um momento em que o cinema italiano começa a mostrar ao mundo que também podia realizar faroestes tão bons quanto os originais americanos. A fórmula de se importar atores e profissionais americanos para trabalharem na Itália havia se mostrado madura o suficiente para assustar até mesmo os grandes estúdios de Hollywood. Para se ter uma ideia a United Artists ficou tão impressionada com a qualidade desse western que não pensou duas vezes em adquirir os direitos da obra para lançar nos cinemas americanos, no circuito interno. Isso era um feito e tanto já que até aquele momento as distribuidoras americanas esnobavam os filmes italianos de faroeste. No elenco, Clint Eastwood e Lee Van Cleef, começavam a virar astros. Ambos amargaram anos e anos de papéis coadjuvantes sem muita importância dentro da indústria americana e tiveram que cruzar o Atlântico para serem finalmente reconhecidos em casa. Por fim, e o mais importante de tudo, o filme contava com a ótima direção do mestre Sergio Leone. Cineasta singular, Leone conseguia impor um estilo próprio, autoral, em fitas que em essência eram realizadas para serem acima de tudo comercialmente bem sucedidas. Dentro do circuito mais comercial ele conseguia, com raro brilhantismo, trazer inovações e classe a gêneros ditos como extremamente popularescos. Maior prova de sua genialidade não há. Assim, caso você nunca tenha assistido esse western classe A não perca mais seu tempo, pois "Per Qualche Dollaro in Più" é de fato simplesmente indispensável e essencial para qualquer cinéfilo que se preze. Um faroeste realmente imortal.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 25 de novembro de 2025

James Stewart e o Western - Parte 2

Como eram muito populares, os filmes de faroeste logo se tornaram o caminho natural para muitos atores de Hollywood durante a era de ouro do cinema clássico americano. Assim foi o caso de James Stewart. Ele começou sua carreira interpretando homens comuns, em filmes ambientados no meio urbano. Algumas comédias românticas, alguns dramas, nada muito especial. Seu começo na indústria foi bem modesto para dizer a verdade.

Seu primeiro grande sucesso nas telas de cinema veio em 1938 com "Do Mundo Nada se Leva". Esse foi o primeiro clássico do ator ao lado do diretor Frank Capra. Esse cineasta queria levantar a moral de uma América abalada pela grande depressão. Por isso seus filmes nesse período tinham uma clara mensagem positiva, de otimismo, de esperança no futuro. James Stewart com sua imagem de homem íntegro do interior, do meio oeste, se encaixava perfeitamente nesse tipo de personagem. Depois de "A Mulher Faz o Homem", também assinado por Capra, foi que James Stewart atuou em seu primeiro western.

O filme se chamava "Atire a Primeira Pedra". Lançado em 1939, com direção do especialista em filmes de faroeste George Marshall (um dos maiores nomes do gênero em todos os tempos), o filme contava ainda com a estrela Marlene Dietrich. Na época de seu lançamento houve algumas críticas pelo fato do filme não ser um western tão tradicional como todos esperavam. Na verdade a presença de Marlene Dietrich exigia algumas concessões no roteiro como a inclusão de músicas e um espaço maior para o romance entre os principais personagens. O público que lotava os cinemas para assistir filmes de western naquela época queria ver pistoleiros durões, duelos em ruas empoeiradas e muita ação, com tiroteios e batalhas entre soldados e nativos. Nada disso havia no filme. O sucesso acabou sendo apenas mediano.

A década de 1940 começou e James Stewart voltou para o tipo de filme que havia se tornado habitual em sua carreira. Atuou no simpático "A Loja da Esquina", no drama "Tempestades d'Alma", no divertido musical em tom de humor "A Vida é uma Comédia" e finalmente no maior sucesso de sua carreira até aquele momento, "Núpcias de Escândalo". Esse filme dirigido por George Cukor tinha um roteiro primoroso e um elenco acima da média, com os imortais  Cary Grant e Katharine Hepburn atuando ao seu lado. O ator foi inclusive premiado pelo Oscar. Era o auge, pensava ele. Durante uma entrevista declarou: "Eu cheguei ao pico da minha carreira. Nada mais poderei fazer para superar isso!". Quando o jornalista perguntou sobre a possibilidade dele fazer novos filmes de faroeste, Stewart respondeu: "Eu quero fazer! Tudo o que posso dizer é que ainda não encontrei um roteiro que me interesse. Isso é questão de tempo. Pretendo atuar ao lado de John Wayne em um futuro próximo!". Ele tinha razão sobre isso. Em alguns anos ele faria ao lado de Wayne um dos maiores clássicos do western de todos os tempos.

Pablo Aluísio.

Atire a Primeira Pedra

Título no Brasil: Atire a Primeira Pedra
Título Original: Destry Rides Again
Ano de Produção: 1939
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: George Marshall
Roteiro: Felix Jackson, Gertrude Purcell
Elenco: Marlene Dietrich, James Stewart, Mischa Auer, Charles Winninger, Brian Donlevy, Allen Jenkins

Sinopse:
Após a morte do xerife, o prefeito de uma pequena cidadezinha do Texas resolve nomear Tom Destry Jr (James Stewart) como o novo xerife. Inicialmente desacreditado por todos, aos poucos ele vai ganhando a confiança dos habitatantes do lugar, iniciando também um breve romance com a bela cantora do saloon, Frenchy (Marlene Dietrich).

Comentários:
Depois de "A Mulher Faz o Homem", assinado pelo grande diretor Frank Capra, foi que James Stewart atuou em seu primeiro western. O filme se chamava "Atire a Primeira Pedra". Lançado em 1939, com direção do especialista em filmes de faroeste George Marshall (um dos maiores nomes do gênero em todos os tempos), o filme contava ainda com a estrela Marlene Dietrich. Na época de seu lançamento houve algumas críticas pelo fato do filme não ser um western tão tradicional como todos esperavam. Na verdade a presença de Marlene Dietrich exigia algumas concessões no roteiro como a inclusão de músicas e um espaço maior para o romance entre os principais personagens. O público que lotava os cinemas para assistir filmes de western naquela época queria ver pistoleiros durões, duelos em ruas empoeiradas e muita ação, com tiroteios e batalhas entre soldados e nativos. Nada disso havia no filme. O sucesso acabou sendo apenas mediano. Hoje em dia o filme vale a pena principalmente por seu valor histórico. Afinal reuniu em seu elenco dois mitos do cinema internacional, Stewart e Marlene Dietrich.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 18 de novembro de 2025

Gloriosa Vingança

Título no Brasil: Gloriosa Vingança
Título Original: Texas
Ano de Produção: 1941
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: George Marshall
Roteiro: Horace McCoy, Lewis Meltzer
Elenco: William Holden, Glenn Ford, Claire Trevor, George Bancroft, Edgar Buchanan, Don Beddoe

Sinopse:
Dois homens do leste, Dan Thomas (William Holden) e Tod Ramsey (Glenn Ford), resolvem ir até o velho oeste, no norte do Texas, para tentar a sorte. Eles querem ganhar a vida jogando cartas e ocasionalmente trabalhando como cowboys. Ao chegarem numa pequena cidade percebem que nem tudo será como eles haviam inicialmente planejado.

Comentários:
Em 1941 o diretor George Marshall, cumprindo seu contrato com a Columbia Pictures, resolveu rodar um faroeste mais diferenciado. Com toques de bom humor e contando com uma dupla que nunca havia trabalhado antes, ele conseguiu um bom resultado nesse western de contrastes chamado "Texas". A ideia do roteiro era realmente explorar o choque cultural entre dois cavaleiros que saíam do leste industrializado e desenvolvido para os rincões do solo texano, com seus cowboys durões, bons de briga e muitos tiroteios. Nesse aspecto quem funcionou melhor no filme foi o ator William Holden que era mesmo um tipo bem cosmopolita, da cidade grande. Já Glenn Ford já era muito mais associado ao gênero western, não ficando estranho com roupas de cowboy, atravessando as planícies texanos em cima de seu cavalo. No geral é um bom faroeste, valorizado não apenas pela boa direção de Marshall, um craque nesse tipo de filme, mas também pelo bom roteiro e a presença sempre marcante de Ford e Holden, dois astros populares da época.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 11 de novembro de 2025

Randolph Scott e o Velho Oeste - Parte 6

"Na Pista do Criminoso" foi uma produção B da Paramount Pictures. Apresentava apenas 61 minutos de duração, feita e realizada para ser exibida em matinês dos cinemas de bairro, a preços promocionais. Tudo feito em ritmo de linha de produção mesmo. Para se ter uma ideia a Paramount produziu mais de 700 fitas como essa entre os anos de 1929 a 1949, todas vendidas depois para a recém-nascida TV que exibia os filmes em horários matutinos, tornando o western ainda mais popular, principalmente entre os mais jovens.

Já o filme seguinte, "A Hora do Coquetel", nada tinha a ver com cavalos, esporas e duelos. Era um filme que tinha a proposta de ser mais sofisticado, passado na alta classe de Nova Iorque. É curioso que antes de decidir se dedicar totalmente ao western, Randolph Scott intercalava filmes de cowboy, com produções mais românticas. Ele procurava seguir nesse último aspecto os filmes mais chiques e borbulhantes como champagne estrelados por seu amigo pessoal Cary Grant. Por essa época inclusive eles decidiram morar juntos em uma bela mansão em Hollywood, o que acabou sendo a origem dos boatos envolvendo os dois. Para as fofocas da época eles formavam um casal gay no armário.

"O Homem da Floresta" (Man of the Forest) trazia um Randolph Scott ainda bem jovem, magro, com bigodinho ao estilo Errol Flynn (na época um dos maiores astros de Hollywood). Era um western dirigido pelo grande Henry Hathaway, ainda também em começo de carreira. O roteiro era baseado em um livro escrito por Zane Grey. Esse escritor era tão popular na época que seu nome ganhava grande destaque nos materiais promocionais dos filmes feitos a partir de seus romances e novelas. Randolph Scott era o xerife na história, que de forma ousada lidava com temas complicados, envolvendo o sequestro de uma jovem garota e um vilão astuto, mestre em jogar a culpa de seus crimes nos outros. O filme tem uma sequência de perseguição em um desfiladeiro nos arredores de Los Angeles que acabou ferindo um dos dublês que caiu com seu cavalo de uma altura considerável. O próprio Scott escapou também de descer ladeira abaixo nessa cena. Anos depois ele ainda se recordaria desse dia de filmagens que quase lhe custou a vida.

Depois desse filme Randolph Scott continuou trabalhando na Paramount Pictures para seu próximo faroeste. Outra adaptação de um romance escrito por Zane Grey, também com direção de Henry Hathaway. Esse novo western recebeu o título de "Rixa Antiga" (To the Last Man), O enredo se passava nas montanhas do Kentucky. Após a guerra civil uma briga de famílias rivais levava um jovem para a prisão por longos 15 anos. Quando ele finalmente cumpre sua pena decide ir até o estado de Nevada para se vingar de Lynn Hayden (Randolph Scott), que ele considerava ser o principal responsável por sua prisão. Esse filme foi bem marcante para Scott porque foi um dos primeiros a lhe dar grande promoção em seu cartaz. Ele estava virando um ator realmente popular em Hollywood.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

O Homem da Floresta

Título no Brasil: O Homem da Floresta
Título Original: Man of the Forest
Ano de Produção: 1933
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Henry Hathaway
Roteiro: Jack Cunningham, Zane Grey
Elenco: Randolph Scott, Verna Hillie, Harry Carey, Noah Beery, Barton MacLane, Buster Crabbe

Sinopse e comentários:
"O Homem da Floresta" (Man of the Forest, Estados Unidos, 1933) trazia um Randolph Scott ainda bem jovem, magro, com bigodinho ao estilo Errol Flynn (na época um dos maiores astros de Hollywood). Era um western dirigido pelo grande Henry Hathaway, ainda também em começo de carreira. O roteiro era baseado em um livro escrito por Zane Grey. Esse escritor era tão popular na época que seu nome ganhava grande destaque nos materiais promocionais dos filmes feitos a partir de seus romances e novelas.

Randolph Scott era o xerife na história, que de forma ousada lidava com temas complicados, envolvendo o sequestro de uma jovem garota e um vilão astuto, mestre em jogar a culpa de seus crimes nos outros. O filme tem uma sequência de perseguição em um desfiladeiro nos arredores de Los Angeles que acabou ferindo um dos dublês que caiu com seu cavalo de uma altura considerável. O próprio Scott escapou também de descer ladeira abaixo nessa cena. Anos depois ele ainda se recordaria desse dia de filmagens que quase lhe custou a vida.

Pablo Aluísio.

domingo, 9 de novembro de 2025

Randolph Scott e o Velho Oeste - Parte 5

Randolph Scott voltou a trabalhar com o diretor Henry Hathaway no western "Maldade" (The Thundering Herd, Estados Unidos, 1933). O roteiro era novamente escrito por Zane Grey, que era tão popular entre os fãs de filmes de faroeste que seu nome conseguia até mesmo um grande destaque nos posters dos filmes que chegavam nos cinemas. O enredo não poderia ser mais referente às mitologias do velho oeste norte-americano.

Scott interpretava um caçador de búfalos chamado Tom Doan. Ele, ao lado de seus homens, caçava búfalos para lucrar com a venda de suas peles, que na época valiam pequenas fortunas. O trabalho, porém, era uma verdadeira luta de sobrevivência em terras hostis. Além dos ladrões de peles, sempre dispostos a matar os caçadores, havia ainda a presença perigosa de guerreiros das tribos locais. No elenco o filme ainda trazia a bela Judith Allen e Buster Crabbe, veterano em filmes de faroeste da época.

Para o próximo filme Randolph Scott resolveu aceitar um convite para algo completamente inédito em sua carreira, um filme de suspense e terror! "Anjo e Demônio" (Supernatural, Estados Unidos, 1933), com direção de Victor Halperin, tinha um roteiro estranho e em certos aspectos até bem sinistro, misturando fantasia e magia negra em um só pacote. A produção foi estrelada pela linda atriz Carole Lombard. Ela era naquele momento uma das grandes estrelas de Hollywood, uma beldade que estava sempre nas capas de revistas das principais publicações de cinema dos anos 30. Scott diria mais tarde que a oportunidade de contracenar com Lombard havia sido a principal razão para ele aceitar participar desse filme, já que o enredo nada tinha a ver com cavalos, cowboys, índios e duelos no velho oeste, algo que ele ia percebendo era definitivamente o seu negócio no mundo do cinema.

O faroeste seguinte de Randolph Scott foi "Na Pista do Criminoso" (Sunset Pass, 1933). Ao lado dele no elenco estavam Tom Keene e Kathleen Burke. A direção era do excelente Henry Hathaway, cineasta que assinou grandes clássicos da história do cinema americano como "Bravura Indômita" (que daria o primeiro Oscar na carreira de John Wayne), "Sublime Devoção" e "A Conquista do Oeste", para muitos o filme de faroeste mais pretensioso da história pois queria esgotar o assunto da ida dos pioneiros para as vastas terras do velho oeste. Pois bem, como se pode ver o filme tinha o diretor certo. Acontece que por essa época, ainda na primeira metade dos anos 30, tanto Henry Hathaway como o próprio Randolph Scott eram ainda bem jovens, muito longe dos grandes clássicos em que iriam trabalhar no futuro.

Pablo Aluísio.

sábado, 8 de novembro de 2025

Filmografia Randolph Scott


Filmografia Randolph Scott

Década de 1920:
Rumo ao Amor (1928)
O Lobo da Bolsa (1929)
Regeneração (1929)
Ver Para Crer (1929)
A Voz da Terra Mater (1929)
A Guarda Negra (1929)
Amores de Folga (1929)
Ilusão (1929)
Agora ou Nunca (1929)
Dinamite (1929)

Década de 1930:
Galanteador Audaz (1930)
Esposas Alegres (1931)
A Noiva do Céu (1932)
Manias de Gente Rica (1932)
A Herança do Deserto (1932)
Sábado Alegre (1932)
Audácia entre Adversários (1932)
Hellim Everybody! (1932)
Maldade (1932)
Vingança Diabólica (1932)
Anjo e Demônio (1932)
Na Pista do Criminoso (1932)
A Hota do Coquetel (1932)
O Homem da Floresta (1932)
Rixa Antiga (1932)
Sonhos Desfeitos (1932)
O Último Assalto (1934)
Amor em Trânsito (1934)
Perigo á Frente (1935)
O Inválido Poderoso (1935)
Roberta (1935)
Noivado na Guerra (1935)
Escândalo na Aldeia (1935)
Ella - A Feiticeira (1935)
Pirate Party on Catalina Island (1935)
Nas Águas da Esquadra (1936)
Perigo à Frente (1936)
O Último dos Moicanos (1936)
Amores de uma Diva  (1936)
Alegre e Feliz (1938)
Sonho de Moça (1938)
A Heroína do Texas (1938)
Almas Sem Rumo (1938)
Jesse James (1939)
Suzana (1939)
A Lei da Fronteira (1939)
Vigilantes do Mar (1939)
Vinte Mil Homens por Ano (1939)

Obs: Filmes em negrito são aqueles que já tiveram seus reviews publicados em nosso blog. 

Continua...

Pesquisa: Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

A Heroína do Texas

Título no Brasil: A Heroína do Texas
Título Original: The Texans
Ano de Lançamento: 1938
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: James P. Hogan
Roteiro: Bertram Millhauser, Paul Sloane
Elenco: Randolph Scott, Joan Bennett, May Robson

Sinopse:
Após a Guerra Civil, um ex-soldado confederado enfrenta novas batalhas, incluindo os membros de uma quadrilha de bandidos que tentam roubar uma jovem indefesa. E ele terá que ser um às do gatilho para vencer todos aqueles bandidos. 

Comentários:
Depois do sucesso comercial de "O Último dos Moicanos" o ator Randolph Scott deu um tempo nas fitas de faroeste. E isso surpreendeu muita gente já que todos esperavam que ele iria cair com tudo no gênero para aproveitar o sucesso. Apenas algum tempo depois é que ele voltaria a usar chapéu de cowboy, botas e esporas para montar seu belo cavalo branco. Isso voltaria a acontecer em "A Heroína do Texas" (The Texans), boa produção dirigida pelo cineasta James P. Hogan. O que chamava bastante a atenção aqui é que todas as atenções do roteiro iam para a mocinha do filme e não para o herói. Algo raro em um estilo cinematográfico tão voltado para o público masculino. Era algo novo e inovador, algo que poucos tinham feito em Hollywood naquele período histórico do cinema americano. A estrelinha do filme, a atriz Joan Bennett, foi até mesmo creditada na frente do astro Randolph Scott. isso mostrava também como ele poderia ser generoso com as colegas de profisssão. Ele vinha de um sucesso de bilheteria e poderia muito bem calçar seu ego de astro de western em Hollywood e exigir seu nome em primeiro lugar nos créditos do filme. Porém não fez isso. Foi bem humilde e companheiro, sendo usado até mesmo como escada da jovem atriz. 

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

No Tempo das Diligências

No Tempo das Diligências
Esse foi o primeiro grande sucesso comercial e de crítica que uniu dois dos maiores mitos dos filmes de faroeste: John Wayne e John Ford. Partindo de uma premissa até simples o roteiro consegue desenvolver extremamente bem todos os personagens mostrando que um grande filme não precisa necessariamente ter um argumento complexo ou complicado, pelo contrário. O enredo, olhando sob esse ponto de vista, é extremamente eficiente: uma diligência com sete passageiros resolve enfrentar uma viagem das mais perigosas, atravessando um território hostil dominado pelo bando Apache liderado pelo famoso chefe Gerônimo. De forma muito talentosa John Ford desenvolve cada passageiro da melhor forma possível. E cada um deles é um retrato de tipos que fizeram parte da colonização rumo ao velho oeste. Estão lá o médico Alcoólatra interpretado por Thomas Mitchell (vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvante por seu desempenho), a prostituta Dallas (Claire Trevor) banida da cidade por motivos óbvios pela liga da moralidade, o jogador trapaceiro Hatfield (John Carradine), o Xerife Curley (George Bancroft) e finalmente o pistoleiro foragido, às do gatilho, que é procurado pela lei, o famoso Ringo Kid (John Wayne). Todos representando tipos comuns do oeste americano. 

O filme também tem todas as características que criaram a fama do cinema de John Ford. A produção foi rodada no cenário mais famoso de sua filmografia, o Monument Valley. Foi a primeira vez que Ford filmou no local e ficou tão fascinado pelo resultado na tela que resolveu voltar lá inúmeras vezes nos anos seguintes, como por exemplo, em "Paixão dos Fortes", "Sangue de Heróis", "Legião Invencível", "Caravana de Bravos", "Rio Bravo", "Rastros de Ódio", "Audazes e Malditos" a até mesmo em seu último faroeste, "Crepúsculo de Uma Raça". O personagem Ringo Kid foi escrito para ser estrelado inicialmente pelo ator Gary Cooper. Já a prostituta Dallas foi criada para ser interpretada pela famosa atriz Marlene Dietrich.

Curiosamente ambos foram descartados do projeto por não terem acertado um cachê adequado ao orçamento do filme. Ford assim escalou John Wayne e Claire Trevor para os personagens, algo que consideraria anos depois um grande acerto pois os dois estão muito bem em cena. Também visando economizar o diretor acabou contratando índios Navajos para a formação do bando Apache de Gerônimo. Tantas economias e cortes de custo acabou virando uma marca registrada da produção que apesar de ser bem simples e direta também é muito eficiente e marcante. Hoje "No Tempo das Diligências" é considerado um dos grandes clássicos do gênero western, de forma muito merecida aliás.

No Tempo das Diligências (Stagecoach, Estados Unidos, 1939) Direção: John Ford / Roteiro: Ernest Haycox, Dudley Nichols / Elenco: John Wayne, Claire Trevor, Andy Devine, John Carradine, George Bancroft / Sinopse: Diligência com sete passageiros tenta atravessar uma região dominada pelo violento e hostil bando do famoso chefe Gerônimo. Vencedor do Oscar nas categorias de melhor ator coadjuvante (Thomas Mitchell) e melhor canção. Indicado ao Oscar nas categorias de melhor filme, diretor, direção de arte (Alexander Toluboff), fotografia em preto e branco (Bert Glennon) e Edição (Otho Lovering e Dorothy Spencer). Vencedor do prêmio de melhor direção (John Ford) pela associação dos críticos de cinema de Nova Iorque.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Os Filmes de Faroeste de John Wayne - Parte 11

"Terror no Texas" (Texas Terror) foi dirigido por Robert N. Bradbury, um cineasta que por essa época era o que mais trabalhava ao lado de John Wayne. Acontece que o ator estava sob contrato com a produtora cinematográfica Paul Malvern Productions, especializada em filmes de bang-bang produzidos para as matinês de sábado. Nesse "faroeste rápido" John Wayne voltava a interpretar um xerife chamado John Higgins. Ele se sentia culpado após a morte de uma amiga. E por isso resolvia entregar sua estrela de homem da lei. Só que precisava voltar à ativa após a irmã dessa mesma amiga ser ameaçada por bandoleiros.

Outro bom filme desse ano (estamos falando de 1935) é o western intitulado "Uma Trilha no Deserto" (The Desert Trail). John Wayne nessa produção interpretou um herói dos rodeios, um sujeito chamado John Scott. Ele deixa os festivais de montaria para ajudar um amigo, agora acusado injustamente de ter matado um homem. O roteiro (assinado por Lindsley Parsons) era na média das produções de matinê. Mais um filme feito a toque de caixa pela mesma Paul Malvern Productions, só que dessa vez com um novo diretor comandando tudo, Lewis D. Collins (aqui sendo creditado como Cullen Lewis, um pseudônimo).

Seu primeiro filme no ano de 1936 foi "A Difícil Vingança" (The Dawn Rider). Usando um figurino que lembrava muito Tom Mix, com aquele típico e enorme chapéu branco, Wayne voltava ao velho oeste. De fato, ele foi provavelmente um dos atores que mais trabalharam nesse gênero cinematográfico ao longo da história pois nessa época fazia filmes em ritmo industrial, um atrás do outro. Mal saía de um set de filmagens e já se apresentava no dia seguinte para mais um faroeste de matinê.

Pois bem, nesse filme um velho tema voltava à tela. O Duke, ainda bem jovem, interpretava um personagem chamado John Mason. Bom rapaz, rápido no gatilho, honesto e trabalhador, sentia a injustiça de ver se pai ser morto por malfeitores na rua da pequena cidade onde morava. Assim decidia realizar a justiça pelas próprias mãos. O tema da vingança envolvendo familiares era muito comum na época e perdurou por anos em filmes de western, sendo copiado à exaustão até mesmo por filmes italianos (o conhecido, amado e odiado, western spaghetti).

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Por Um Punhado de Dólares

Esse é um dos grandes clássicos do chamado western spaghetti. O termo que pode até soar engraçado hoje em dia se refere aos faroestes produzidos e rodados na Itália com atores e equipe técnica daquele país, muitas vezes usando pseudônimos americanizados. Como se sabe o Western é um gênero tipicamente norte-americano pois o tema central é justamente a conquista do oeste daquela nação. Os italianos porém não se importaram muito com esse detalhe e a partir da década de 60 intensificaram a produção desse tipo de filme. Além da nacionalidade outras características distinguem bem os filmes italianos dos americanos. A ação é bem mais incessante, não há muita preocupação com roteiros bem elaborados e as interpretações tendem ao exagero, com vilões cartunescos e muita violência. Esse "Por Um Punhado de Dólares" tem tudo isso mas também é uma fita diferenciada. Essa singularidade tem nome: Sergio Leone. Cineasta talentoso, hábil, ele mostra nesse filme porque ainda hoje é um considerado um dos grandes mestres do cinema.

O uso de tomadas ousadas, cenas com muito clima e detalhes, além da combinação muito bem realizada entre trilha sonora e ação fizeram toda a diferença do mundo. As cenas de violência não são ainda tão bem elaboradas como às que veríamos em futuros trabalhos assinados pelo diretor mas aqui já há nitidamente um esboço de seu estilo e forma de trabalhar. O roteiro simplório não impede que Leone consiga mostrar grandes feitos em sua direção. O próprio duelo final é um exemplo, com ótima edição e enquadramento. Para coroar ainda mais esse faroeste temos a presença de um dos grandes atores desse gênero: Clint Eastwood. Aqui ele interpreta o pistoleiro sem nome que chega numa cidadezinha empoeirada no meio do deserto. O local é disputado por dois grupos rivais, ambos violentos e extremamente armados. O personagem de Eastwood então resolve tirar proveito dessa rivalidade. O que se sucede são muitos tiroteios, duelos e cenas de ação bem ao estilo do western spaghetti. A trilha sonora de Ennio Morricone pontua cada cena, cada tensão, cada troca de tiros. Parece ser onipresente. A conclusão que se chega ao final de sua exibição é que embora muitos aspectos do filme estejam datados e ultrapassados ele ainda resiste como um excelente exemplo do tipo de cinema que se realizava na Itália durante a década de 60. Além disso é um ótimo testemunho do talento de Sergio Leone, um diretor de muito tato e inspiração. 

Por Um Punhado De Dólares (Per un pugno di dollari, Itália, 1964) Direção: Sergio Leone / Roteiro: A. Bonzzoni, Víctor Andrés / Elenco: Clint Eastwood, Gian Maria Volonté, Marianne Koch / Sinopse: Clnt Eastwood interpreta o pistoleiro sem nome que chega numa cidadezinha empoeirada no meio do deserto. O local é disputado por dois grupos rivais, ambos violentos e extremamente armados. O personagem de Eastwood então resolve tirar proveito dessa rivalidade.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Audie Murphy e o Western - Parte 3

Audie Murphy foi de certa forma um astro improvável. Ele não era muito alto, nem muito bonito e muito menos carismático. Sua entrada no cinema se deu por causa de sua notoriedade durante a II Guerra Mundial, uma vez que ele foi o militar mais condecorado da guerra. Sua capacidade de atuar dramaticamente era limitada, porém com tantas medalhas e fama de herói, era mesmo previsível que Hollywood o procurasse mais cedo ou mais tarde.

Sua estreia no cinema se deu em 1948. Era quase um teste que a United Artists fazia com ele, para ver se Audie levava jeito com a câmera. O filme se chamava "Viver Sonhando" e não era um filme de guerra e nem um faroeste. Dirigido por William Castle, um diretor e produtor especialista em filmes B, esse era um romance açucarado, onde Murphy não tinha muito espaço. Seu personagem tinha uma participação mínima dentro da trama e como já foi escrito tudo não passou de um teste para saber como Audie Murphy aparecia na tela grande dos cinemas.

Apesar de não ter sido grande coisa ele acabou sendo aprovado. Castle disse aos executivos do estúdio que ele levava jeito para a atuação. A única observação que ele disse para os produtores é que não o escalassem mais para filmes românticos, já que Audie Murphy definitivamente não fazia o tipo galã ao estilo Rock Hudson. Ele se sairia melhor interpretando caras comuns em situações excepcionais, que colocavam em desafio seus valores e sua bravura. A Paramount entendeu o recado e contratou Audie Murphy para um novo filme que estava prestes a ser produzido.

O filme se chamava "Código de Honra". Dirigido por John Farrow e estrelado pelo astro
Alan Ladd (de "Os Brutos Também Amam") esse filme era bem mais adequado para Murphy. Era um drama de guerra, passado nos campos de batalha da Tunísia, onde foram travados alguns dos mais sangrentos combates entre forças inimigas. A história girava em torno do capitão Rockwell 'Rocky' Gilman (Ladd) e suas idas e vindas entre os Estados Unidos e a Tunísia, a grande paixão de sua vida e as tentativas de ter um recomeço na vida. Audie Murphy interpretava um jovem cadete de West Point chamado Thomas. Foi a primeira vez que ele usou o mesmo uniforme militar com que tinha lutado na guerra em um filme. Uma prévia do que viria em sua carreira nos anos seguintes.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

A Glória de um Covarde

Título no Brasil: A Glória de um Covarde
Título Original: The Red Badge of Courage
Ano de Produção: 1951
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: John Huston
Roteiro: John Huston
Elenco: Audie Murphy, Bill Mauldin, Douglas Dick

Sinopse:
Henry Fleming (Audie Murphy) é um jovem soldado ianque durante a guerra civil americana. Seu regimento se prepara há tempos para entrar em combate mas esse dia sempre é adiado. Ao contrário de seus colegas de tropa, Fleming teme por sua vida no campo de guerra. Durante sua primeira batalha ele entra em pânico e com medo de morrer sai correndo do front. Isso lhe traz uma crise de consciência terrível que faz com que ele volte para enfrentar o inimigo com uma bravura jamais vista no fogo cruzado entre os soldados do norte e seus inimigos, os confederados do sul. Indicado ao BAFTA Awards na categoria Melhor Filme.

Comentários:
Uma pequena obra prima assinada pelo mestre John Huston. O cineasta resolveu roteirizar o famoso livro de autoria de Stephen Crane que explora os medos e anseios de um soldado comum durante a guerra civil americana. A estória se passa em 1862 e o enredo se desenvolve todo em apenas dois dias na vida daqueles homens. O grande diferencial desse "The Red Badge of Courage" em relação a outros filmes sobre a guerra civil  da época é que ele desenvolve excepcionalmente bem a personalidade do jovem soldado, mostrando seus pensamentos, seu receio e o terror frente ao inimigo e por fim sua redenção gloriosa. Todos os membros do pelotão são muito bem desenvolvidos psicologicamente e isso mostra muito bem como Huston era um gênio do cinema, um diretor realmente diferenciado. Em uma época em que os filmes de western mostravam homens bravos, sem máculas, ele ousou realizar um filme mostrando um sujeito com muitas dúvidas, agindo até mesmo como um covarde, temeroso por sua vida e seu destino. Outro aspecto digno de nota é a interpretação do ator Audie Murphy. Ele mesmo um veterano de guerra, se mostra excepcional em cena, algo que vai surpreender a muitos que o consideravam apenas como um ator mediano de faroestes B. Enfim, temos mesmo aqui uma obra de arte com a assinatura do genial Huston. Um belo filme que vai agradar em cheio os admiradores do mais americano dos gêneros cinematográficos.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 21 de outubro de 2025

Contos de Western: Choque de Ódios

Capítulo 1 – O Campo de Fantasmas
O sol já começava a declinar quando o capitão Elias Monroe avistou, à distância, a silhueta branca de uma grande casa sulista. Erguia-se solitária no horizonte, cercada por fileiras de carvalhos e um vasto campo de algodão já colhido, como um fantasma das colheitas passadas. O vento soprava do sul, trazendo o cheiro do pó e da pólvora, misturado ao perfume adocicado das flores que sobreviviam teimosamente no jardim abandonado.

A tropa da União vinha de dias de marcha ininterrupta. Eram apenas treze homens, exaustos, com uniformes rasgados e rostos queimados pelo sol. Haviam se separado do regimento principal após uma escaramuça nas margens do rio Yazoo. Sem mapas, guiavam-se apenas pela intuição do capitão e o desejo desesperado de encontrar abrigo antes que a noite os engolisse.

Quando avistaram a mansão, alguns pensaram que fosse miragem. Era imponente demais para ainda estar de pé, com suas colunas brancas e varandas amplas, um símbolo dos velhos tempos de riqueza do sul. “Deve ter sido uma fazenda de algodão”, disse o sargento Whitaker, coçando a barba rala. “Uma casa de senhores, talvez. Agora é só mais um túmulo.”

Monroe olhou para ela em silêncio. No fundo, sentiu algo estranho — como se aquele lugar os observasse de volta. Ainda assim, ordenou que avançassem. A noite se aproximava, e a guerra não perdoava homens ao relento. Marcharam em silêncio, cruzando o campo seco, enquanto corvos giravam lentamente sobre suas cabeças.

A primeira coisa que notaram ao entrar foi o silêncio. Um silêncio denso, sufocante. As portas estavam escancaradas, o chão coberto de poeira e folhas. Mas os móveis estavam lá — sofás de veludo, cristaleiras cheias de taças, retratos nas paredes. E, no porão, dezenas de garrafas de vinho francês, intactas. “Parece que o dono saiu e nunca mais voltou”, murmurou o soldado O’Donnell.

Em poucos minutos, o cansaço se transformou em alívio. Os homens riram, beberam, acenderam lamparinas. Fizeram fogo na lareira, limparam um pouco o salão principal e se deixaram embalar pela sensação quase esquecida de conforto. Monroe, porém, mantinha-se inquieto. Olhava para os retratos — um homem de terno branco, uma mulher altiva de olhar severo, uma menina com um laço azul no cabelo. Famílias inteiras que talvez já tivessem sido varridas pela guerra.

Quando o relógio de parede soou as nove badaladas, algo pareceu estremecer na casa. Uma janela se fechou sozinha. O’Donnell, rindo, disse que era o vento. Mas Monroe sentiu um arrepio que não vinha da brisa. Mesmo assim, ordenou que descansassem. Amanhã voltariam a tentar o norte, para reencontrar o exército da União.

Enquanto os soldados adormeciam sobre sofás e tapetes, a lua ergueu-se por trás dos carvalhos. A luz prateada entrou pelas janelas quebradas, riscando o chão de sombras. E, por um instante, Monroe jurou ver uma figura branca passando ao longe — uma mulher, imóvel, no meio do campo de algodão.

Ele piscou. A visão sumiu.
Mas o mal-estar permaneceu.

Capítulo 2 – Ecos na Escuridão
A noite caiu densa sobre a planície. Dentro da grande casa, as chamas da lareira tremeluziam como corações inquietos. Os homens dormiam espalhados pelas salas, alguns sobre sofás de veludo rasgado, outros recostados contra as colunas do salão principal. O ar estava pesado de fumaça, vinho e o suor de dias de marcha. Apenas o capitão Monroe mantinha-se desperto, vigiando pela janela quebrada do andar superior.

Lá fora, o campo de algodão reluzia sob o luar — uma extensão branca e silenciosa, quase sagrada. O capitão pensou em como aquele algodão, outrora símbolo da riqueza do sul, agora cobria a terra como mortalha. Era um mar de fantasmas. O vento soprava leve, mas trazia sons distantes — talvez trovões, talvez o eco de cavalos. Ele se perguntou se seriam ecos de batalhas antigas ou o prelúdio de uma nova.

Descendo as escadas, Monroe encontrou o soldado Harper acordado, fumando perto da lareira. “Não consegue dormir, capitão?” perguntou o rapaz. “Não é o tipo de lugar que deixa um homem descansar fácil”, respondeu ele. Harper riu nervosamente. “Parece que os antigos donos ainda estão por aqui. Ouvi passos no andar de cima.” Monroe o fitou. “Certamente era eu.” Mas no fundo, não tinha certeza.

Ao explorar a casa, Monroe descobriu a cozinha intacta, com panelas ainda penduradas e louças alinhadas como se esperassem o jantar. Encontrou também uma pequena sala de música — um piano coberto de pó e partituras amareladas. Sentou-se diante do instrumento e, movido por impulso, pressionou uma tecla. Um som grave e desafinado ecoou pela casa, fazendo alguns soldados se revirarem no sono. E então, de algum lugar acima, veio o estalo nítido de uma porta se abrindo.

O capitão subiu novamente, cauteloso, arma em punho. No fim do corredor, a porta do quarto principal estava entreaberta. Ele a empurrou devagar. O quarto era vasto e escuro, com uma cama de dossel coberta por lençóis antigos. Sobre a penteadeira, um espelho oval refletia sua própria figura à luz da lamparina — mas por um instante, jurou ver outra silhueta atrás de si. Uma mulher, alta, vestida de branco, parada à beira da cama. Piscou, e ela desapareceu.

Assustado, Monroe voltou ao saguão. O relógio marcava quase meia-noite. A lareira crepitava baixo, e o sargento Whitaker ressonava alto, sonhando com casa. Lá fora, o vento aumentava. O som dos galhos parecia o murmúrio de vozes. E, de repente, veio um estampido seco — como um tiro. Todos despertaram num sobressalto, puxando as armas.

“De onde veio isso?”, gritou O’Donnell. Monroe correu até a varanda, o rifle em mãos. O campo de algodão permanecia imóvel. Nenhum movimento. Nenhum inimigo. Apenas o eco distante de cavalos, agora mais forte, vindo do sul. Os homens se entreolharam — a tensão era palpável. “Talvez apenas um caçador”, sugeriu Harper. Mas Monroe sabia: não havia caçadores em cem milhas. E o som dos cavalos soava organizado… militar.

Quando voltaram para dentro, o capitão fez o sinal da cruz. “Amanhã sairemos ao amanhecer”, disse ele. “Antes que o inferno nos encontre aqui.”

Mas o inferno já os observava.
E ele viria antes do sol.

Capítulo 3 – O Cerco
O amanhecer trouxe uma luz fria e silenciosa. O campo de algodão parecia coberto por uma fina névoa que se erguia do solo como fumaça de um campo de batalha esquecido. Monroe acordou cedo, antes dos outros, e subiu à varanda do segundo andar. O ar tinha cheiro de chuva e ferro. Daquela altura, podia ver milhas adiante — e o que viu fez seu sangue gelar: pequenas colunas de fumaça no horizonte. Sinais de acampamentos. Tropas confederadas.

Desceu às pressas. “Todos de pé!” bradou. Os soldados acordaram assustados, ainda tontos de vinho e sono. “Temos companhia. Os rebeldes estão perto.” O sargento Whitaker correu para o pátio com o binóculo em mãos. Confirmou o que o capitão dissera — cavaleiros ao sul, e mais dois grupos se movendo pela estrada a oeste. Eles estavam sendo cercados.

“Quantos são?”, perguntou O’Donnell.
“Pelo menos uns cinquenta. Talvez mais”, respondeu Whitaker, engolindo seco.
“E nós somos treze”, disse Harper, rindo sem humor.

Monroe não hesitou. “Vamos transformar esta casa num forte.” Em minutos, os homens se espalharam, empurrando móveis pesados contra portas e janelas, montando barricadas improvisadas com mesas e estantes. As garrafas de vinho foram substituídas por cartuchos e pólvora. As cortinas elegantes viraram bandagens e cordas. A mansão, outrora símbolo de luxo, tornava-se agora um campo de guerra.

No porão, encontraram um pequeno arsenal: uma velha espingarda de caça, algumas munições enferrujadas e, para espanto de todos, um canhão de campanha coberto por lonas. “Deus abençoe os velhos senhores do sul”, disse O’Donnell, limpando o pó do ferro. “Parece que um deles deixou um presente.” Monroe sorriu pela primeira vez em dias. “Então faremos com que valha a pena.”

Enquanto preparavam as defesas, um silêncio tenso tomou conta da casa. De tempos em tempos, um corvo cruzava o céu, grasnando como se anunciasse o que estava por vir. Monroe subiu novamente à varanda e observou o inimigo se aproximando. Podia ver agora as bandeiras cinzentas tremulando, os cavaleiros armados de fuzis e sabres. E entre eles, um oficial de barba branca montado num cavalo negro — parecia liderá-los com autoridade fria.

O capitão respirou fundo. “Whitaker, posicione dois homens no telhado. Quero olhos em todas as direções. Harper, vigie o flanco leste. O’Donnell, carregue o canhão.”
“E o senhor, capitão?”
“Eu? Vou rezar um pouco. E depois, lutar.”

Ao meio-dia, o primeiro disparo ecoou. Uma bala acertou o corrimão da varanda, arrancando uma lasca de madeira. Os homens da União responderam quase imediatamente, e o campo branco se encheu de fumaça. O som da guerra voltava a dominar o sul, fazendo tremer as colunas da antiga casa.

Por horas trocaram tiros. Os confederados, em número muito superior, cercaram a propriedade em semicírculo, atacando por ondas. Mas a mansão resistia. Cada janela se transformou em posto de tiro; cada sala, em trincheira. Os soldados da União, famintos e exaustos, lutavam com o fervor de homens que sabiam não ter para onde correr.

Quando o sol começou a descer, as paredes estavam cravejadas de buracos, e o chão, manchado de sangue. Dois dos homens caíram — Harper e o jovem Miller. Monroe fechou os olhos ao vê-los tombar, e por um instante, a culpa o sufocou. “Eles morreram lutando, capitão”, disse Whitaker, tentando confortá-lo. “É o que fazemos de melhor.” Monroe assentiu. Mas no fundo, sabia que aquilo não era glória — era apenas a lenta devoração da alma.

A noite caiu novamente sobre a casa. O fogo ardeu baixo nas barricadas, e o inimigo se afastou por ora. Lá fora, o campo de algodão agora ardia em chamas — branco transformado em vermelho. Monroe olhou pela janela e murmurou: “Eles não vão parar.”
E, ao longe, sob a lua, o som dos tambores começou a soar.

O cerco apenas começara.

Capítulo 4 – O Sangue e o Algodão
A madrugada amanheceu envolta em fumaça. As colinas ao redor da fazenda estavam cobertas de névoa e o campo de algodão parecia um tapete cinzento, silencioso, como se a própria terra contivesse a respiração antes do ataque. Os homens da União se movimentavam em silêncio dentro da casa. As barricadas haviam sido reforçadas, e o canhão encontrado no porão agora estava posicionado na varanda, apontado para a estrada.

O sargento Whitaker afiava sua baioneta junto à janela. “Eles virão hoje, capitão. Sei quando um homem está prestes a matar.”
Monroe assentiu, com o olhar duro. “Então que encontrem homens prontos para morrer também.”

Às sete da manhã, o primeiro ataque veio. Uma carga de cavaleiros confederados desceu a colina em formação, bandeiras cinzentas tremulando, gritos de guerra cortando o vento. Os disparos ecoaram, e o som das balas zunindo encheu o ar. O’Donnell puxou o gatilho do canhão, e uma explosão ensurdecedora abriu um clarão que iluminou o campo inteiro. Cavaleiros foram lançados ao ar, e os que sobreviveram se dispersaram em pânico.

Mas logo vieram mais — fileiras de infantaria surgiram da névoa, marchando em direção à casa. O som de tambores e cornetas misturava-se ao estalar das armas. As janelas da mansão cuspiam fogo. Harper, mesmo ferido, gritava ordens entre tiros. O’Donnell recarregava o canhão com as mãos ensanguentadas. Monroe, no alto da escadaria, observava tudo como um general de ruína, comandando não um exército, mas uma lembrança dele.

O chão tremeu com a intensidade dos disparos. A cada carga repelida, mais homens caíam. Um soldado chamado Lewis foi atingido no pescoço; outro, Briggs, teve o braço arrancado por uma bala de canhão. Ainda assim, ninguém recuou. A casa tornara-se viva — respirava, gemia, sangrava junto com eles. As paredes brancas estavam manchadas de vermelho, e o algodão no campo ardia em chamas, parecendo neve suja de sangue.

Quando a noite caiu, os confederados recuaram novamente. A casa estava de pé, mas mal. Parte do telhado havia desabado. Um incêndio consumia o celeiro. Monroe sentou-se exausto no degrau da escadaria, observando os corpos no chão. “Quantos restam?”, perguntou.
“Sete, senhor”, respondeu Whitaker. “Sete vivos.”
“Então somos o que resta da União neste maldito lugar.”

A chuva começou a cair, misturando-se ao sangue e à fuligem. O capitão olhou para o campo em brasas e murmurou: “Amanhã, eles virão em dobro.”
E sabia que era verdade.

Capítulo 5 – O Coração da Mansão
A chuva caiu durante toda a madrugada, abafando o som distante dos tambores confederados. A casa estava em ruínas. O teto gotejava, o chão era uma mistura de lama e sangue. Monroe e os poucos sobreviventes se reuniram na sala principal. Acenderam velas e improvisaram curativos. O silêncio era pesado — o tipo de silêncio que antecede a morte.

Enquanto cuidava dos feridos, Monroe notou algo estranho. No canto da sala, sob os escombros, havia uma pequena porta de ferro semioculta por um tapete. Parecia levar a um porão mais profundo. Tomado por curiosidade, abriu-a. Desceu com uma lamparina na mão e encontrou um ambiente que não parecia apenas um depósito. Era uma antiga adega, sim — mas no centro havia uma cadeira, algemas enferrujadas e marcas nas paredes. Um antigo porão de escravos castigados.

Ele se ajoelhou, tocando o ferro frio. O passado do sul estava ali — concreto, cruel. Entendeu, enfim, por que aquela casa parecia amaldiçoada. “Os pecados antigos nunca morrem”, murmurou. Ao voltar, encontrou Whitaker observando pela janela. “Eles se preparam para o amanhecer”, disse o sargento. “Estão trazendo reforços.”

Monroe olhou para os rostos dos homens. Nenhum fugiria. Nenhum se renderia. Mas todos sabiam: estavam condenados. Ainda assim, o capitão sentiu que havia algo quase sagrado naquela resistência. Não lutavam mais por vitória — lutavam para deixar uma marca. Para provar que, mesmo esquecidos, morreriam como soldados.

Durante a madrugada, o capitão subiu ao quarto principal. Sentou-se à frente do velho espelho. Pela primeira vez em dias, viu-se claramente — os olhos cansados, o rosto coberto de fuligem, o olhar endurecido. E atrás de si, a figura da mulher branca outra vez. Ela não falava, apenas observava. Monroe não sentiu medo, apenas um estranho consolo. “Você também perdeu alguém nesta guerra, não foi?”, murmurou. O reflexo desapareceu.

Quando o sol nasceu, ele estava pronto.

Capítulo 6 – A Última Linha
O terceiro dia começou com fogo. Os confederados abriram ataque com artilharia pesada, bombardeando a casa a distância. As colunas caíam uma a uma, e o som dos estalos era como ossos quebrando. Monroe ordenou que todos se abrigassem no andar inferior. Lá, cada homem ocupou uma janela, transformando cada quarto em trincheira.

O’Donnell foi o primeiro a cair. Um disparo atravessou a parede e o atingiu no peito. Ele ainda teve tempo de sorrir para Monroe antes de desabar. O capitão ajoelhou-se ao seu lado e fechou-lhe os olhos. “Descansa, soldado. Você já cumpriu sua parte.”
O resto continuou lutando. A fumaça era tanta que mal se via o inimigo. Tiros ecoavam de todas as direções. O calor do fogo misturava-se ao cheiro de pólvora e madeira queimando. A mansão tornara-se um inferno de estalos e gritos.

Ao meio-dia, apenas quatro homens restavam. Monroe, Whitaker, Harper e um recruta chamado Evans. O jovem tremia, segurando o rifle com as duas mãos. “Eles são muitos, capitão!”, gritou.
“Não olhe para eles, Evans. Olhe para mim”, respondeu Monroe. “Enquanto estivermos vivos, esta casa continua de pé.”

Quando o inimigo avançou pela varanda, Monroe acendeu o estopim do canhão pela última vez. A explosão lançou chamas e estilhaços. O impacto derrubou parte da fachada, e dezenas de confederados foram mortos instantaneamente. Mas o canhão rachou e explodiu junto, lançando o capitão contra a parede. O mundo girou. Tudo ficou vermelho.

Ao recobrar a consciência, Monroe viu apenas fumaça e vultos. Whitaker jazia morto. Harper desaparecera. Evans ainda respirava, mas mal. A casa estava em ruínas. Mesmo assim, lá fora, as tropas inimigas hesitavam. Por um momento, o silêncio reinou. E Monroe, coberto de sangue e cinzas, ergueu a bandeira azul da União sobre os escombros da varanda.

Um símbolo.
Um desafio.

Capítulo 7 – A Bandeira no Crepúsculo
A bandeira tremulava no vento, rasgada, manchada de lama e sangue. O sol começava a se pôr, tingindo o céu de vermelho. Do campo, os confederados observavam em silêncio. Ninguém se movia. Talvez respeitassem a coragem daqueles poucos homens. Talvez estivessem apenas se preparando para o golpe final.

Evans morreu ao entardecer. Monroe o enterrou atrás da casa, entre os restos queimados do jardim. “Você lutou como um homem”, disse baixinho. “E isso basta.” Ficou sozinho. O último. O vento trazia o som distante de vozes, ordens, o mover de cavalos. A noite cairia, e com ela viria o ataque final.

Antes que escurecesse por completo, o capitão subiu ao quarto principal. As paredes estavam chamuscadas, e o espelho partido refletia fragmentos de seu rosto. De repente, ouviu passos atrás de si. Virou-se com a arma em punho — e viu, pela última vez, a mulher de branco. Desta vez, ela falava.

“Sua luta já terminou, capitão. A casa está satisfeita.”
“Quem é você?” perguntou ele, a voz rouca.
“A senhora que viu este chão ser manchado. Agora, você devolveu a cor.”

Ela desapareceu. E Monroe, tomado por uma estranha paz, sorriu pela primeira vez em dias.

Capítulo 8 – O Fim do Cerco
O amanhecer chegou envolto em fumaça e silêncio. As tropas confederadas cercaram os escombros, preparadas para a invasão final. Mas nenhum tiro veio da casa. Nenhum som. Apenas o estalar de brasas e o bater de um pano ao vento — a bandeira da União, ainda tremulando sobre as ruínas.

Quando finalmente entraram, encontraram corpos carbonizados, estilhaços e destroços. No salão principal, de joelhos e ainda ereto, estava o corpo do capitão Monroe. O rifle repousava em suas mãos. O olhar, fixo na porta de entrada. Como se ainda guardasse a casa.

O oficial confederado — o mesmo homem de barba branca visto dias antes — retirou o chapéu. “Que ninguém toque nele”, ordenou. “Enterrem-no aqui. Ele lutou como soldado.”
E assim foi feito.

Sobre o túmulo improvisado, deixaram a bandeira azul. O vento soprou mais forte, e o campo de algodão balançou, cobrindo lentamente a casa destruída.

Capítulo 9 – Os Anos Passaram
Décadas depois, a guerra era apenas lembrança. A casa de algodão foi reconstruída parcialmente, transformada em museu. Diziam que, em noites de lua cheia, ainda se ouvia o eco de tiros e vozes. Turistas afirmavam ver uma silhueta na varanda, de farda azul, vigiando o campo.
Um guia local contava sempre a mesma história: “Treze homens da União encontraram abrigo aqui. Só um resistiu até o fim. O capitão Elias Monroe. Dizem que ele ainda guarda a casa, esperando a guerra acabar de verdade.”

Alguns riam. Outros se benziam. Mas todos, ao sair, olhavam para trás — e juravam ver uma sombra entre as colunas brancas.

Capítulo 10 – A Eternidade em Algodão
O tempo levou tudo — exércitos, glórias, memórias. Mas o campo de algodão ainda floresce. E nas manhãs em que o vento sopra do sul, o branco das flores parece cobrir o solo como lençol de fantasmas. Entre as ruínas da velha casa, a bandeira azul ainda tremula, desbotada, insistente.

Dizem que em certas madrugadas, quando o céu se cobre de névoa, pode-se ouvir o som de um canhão distante, um cavalo galopando, e uma voz firme ordenando: “Fiquem em suas posições, homens. Esta casa não cairá.”

E, por um instante, o mundo parece lembrar o preço do que chamamos de honra.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

A Floresta Maldita

Jim Fallon (Kirk Douglas) é um madeireiro astuto e falastrão que após ter vários problemas na costa leste resolve ir até as fronteiras do oeste selvagem em busca de novas florestas para devastar e fazer fortuna. Chegando na Califórnia ele encontra uma rica reserva natural, mas encontra obstáculos para colocar as mãos em toda a matéria prima pois a terra é disputada por madeireiros rivais e um grupo religioso que pretende preservar as milenares árvores do local. Se fazendo passar por um rico milionário que quer apenas preservar a rica floresta ele acaba conseguindo finalmente a posse da mata. Depois ele terá que escolher entre explorar comercialmente a madeira do local ou ouvir sua consciência deixando intacta a floresta e suas árvores suntuosas e majestosas. Esse “A Floresta Maldita” tem um roteiro ecológico, e isso muitas décadas antes da ecologia virar moda. Claro que a consciência de se preservar as florestas não tem a mesma abrangência do que atualmente se vê, mas mesmo assim o roteiro tenta de todas as formas mostrar que também é importante preservar a riqueza natural por sua importância para as futuras gerações. Afinal, se toda aquela floresta for derrubada, não haverá mais nada a se explorar ou ver nos anos futuros.

Embora seja um filme muito bem intencionado nesse aspecto, “A Floresta Maldita” também apresenta problemas. Em vários momentos a estória se torna truncada e mal desenvolvida, há um excesso de detalhes jurídicos envolvendo a trama que só a torna cansativa e arrastada. O roteiro perde muito potencial discutindo quem seria o verdadeiro possuidor da floresta e quem teria o direito de explorar toda aquela madeira. O personagem de Kirk Douglas, por exemplo, passa quase todo o tempo tentando driblar a lei, forjando documentos falsos ou então elaborando novas fraudes para tomar conta de tudo. Isso acaba deixando o ritmo um pouco arrastado e repetitivo.

As coisas de fato só melhoram mesmo quando o filme finalmente vai se aproximando de seu final. A questão jurídica é deixada de lado para apostar em boas cenas de ação. Na melhor delas o personagem de Kirk Douglas, tal como um Indiana Jones do faroeste, pula em cima de um trem em movimento que caminha para o abismo. Sua intenção é salvar a mocinha, separar o vagão onde ela está do restante da locomotiva e parar o mesmo, antes que atravesse uma ponte de madeira sabotada!  Ufa! Cenas como essas literalmente salvam o filme da primeira parte mais arrastada. No saldo final poderia realmente ser bem melhor, mas do jeito que está, até que diverte, apesar de alguns erros. Fica então a recomendação para os cinéfilos fãs do bom e velho Kirk Douglas. 

A Floresta Maldita (The Big Trees, Estados Unidos, 1952) Direção: Felix E. Feist / Roteiro: John Twist, James R. Webb / Elenco: Kirk Douglas, Eve Miller, Patrice Wymore / Sinopse: Inescrupuloso e ganancioso madeireiro vai até a Califórnia com o objetivo de devastar uma rica floresta local. A tarefa porém não será nada fácil pois ele terá que enfrentar um grupo religioso que luta pela preservação da natureza e comerciantes de madeira rivais.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Gary Cooper - Biografia


Gary Cooper

Biografia
Gary Cooper nasceu em 7 de maio de 1901, em Helena, no estado de Montana, Estados Unidos. Seu nome de batismo era Frank James Cooper. Filho de pais ingleses, passou parte da infância estudando na Inglaterra antes de retornar aos EUA. Após tentar a carreira de ilustrador e trabalhar em um rancho, mudou-se para Los Angeles, onde começou a trabalhar como figurante em filmes mudos. Sua aparência rústica, o carisma natural e o jeito reservado logo chamaram a atenção dos produtores.

Estréia no cinema – Primeiros filmes
Cooper iniciou sua carreira cinematográfica no final da década de 1920, atuando como figurante em produções de faroeste. Seu primeiro papel de destaque foi em O Álamo – O Despertar de uma Nação (The Winning of Barbara Worth, 1926), ao lado de Ronald Colman e Vilma Banky. O sucesso do filme lhe abriu as portas para papéis maiores nos anos seguintes, já na era do cinema sonoro.

Auge e sucesso em Hollywood
Durante as décadas de 1930 a 1950, Gary Cooper consolidou-se como um dos maiores astros de Hollywood. Sua persona cinematográfica era a do homem íntegro, corajoso e de fala calma — um verdadeiro símbolo do herói americano. Atuou em dramas, romances e, principalmente, em faroestes, gênero no qual se destacou por papéis que valorizavam a honra e o dever moral.

Principais filmes da carreira

  • Sargento York (Sergeant York, 1941)

  • A Mulher Faz o Homem (Mr. Deeds Goes to Town, 1936)

  • Por Quem os Sinos Dobram (For Whom the Bell Tolls, 1943)

  • Matar ou Morrer (High Noon, 1952)

  • Adeus às Armas (A Farewell to Arms, 1932)

  • O Galante Aventureiro (Beau Geste, 1939)

  • O Ídolo de Cristal (The Pride of the Yankees, 1942)

  • O Homem do Oeste (Man of the West, 1958)

Últimos filmes
Nos últimos anos de sua carreira, Cooper enfrentou problemas de saúde, mas continuou atuando. Seus últimos trabalhos incluem O Homem do Oeste (Man of the West, 1958) e O Prêmio (The Naked Edge, 1961), lançado após sua morte.

Filmes de western estrelados por Gary Cooper

  • O Álamo – O Despertar de uma Nação (The Winning of Barbara Worth, 1926)

  • A Legião do Deserto (The Plainsman, 1936)

  • A História de Frank James (The Westerner, 1940)

  • Rio Vermelho (Along Came Jones, 1945)

  • Matar ou Morrer (High Noon, 1952)

  • O Homem do Oeste (Man of the West, 1958)

  • Dallas, Cidade do Ódio (Dallas, 1950)

  • Vera Cruz (Vera Cruz, 1954)

Vida Pessoal
Gary Cooper casou-se em 1933 com Veronica Balfe (conhecida como Sandra Shaw), uma socialite e atriz ocasional. O casal teve uma filha, Maria Cooper. Apesar da imagem pública de homem íntegro, Cooper teve relacionamentos extraconjugais notórios com atrizes como Clara Bow, Lupe Vélez e Patricia Neal. Era conhecido por sua discrição e vida reservada fora dos estúdios.

Morte do ator
Gary Cooper faleceu em 13 de maio de 1961, em Beverly Hills, Califórnia, vítima de câncer de próstata, apenas seis dias após completar 60 anos. Sua morte causou grande comoção em Hollywood e entre o público, sendo lembrado como um dos últimos símbolos da era de ouro do cinema clássico americano.

Prêmios e Reconhecimentos

  • Oscar de Melhor Ator por Sargento York (1941)

  • Oscar de Melhor Ator por Matar ou Morrer (1952)

  • Oscar Honorário (1961) pelo conjunto da obra

  • Globo de Ouro de Melhor Ator por Matar ou Morrer (1952)

  • Estrela na Calçada da Fama de Hollywood

Legado
Gary Cooper é lembrado como um dos maiores ícones da história do cinema americano. Sua atuação contida, natural e carismática influenciou gerações de atores, incluindo Clint Eastwood e Kevin Costner. Representou, em seus papéis, o ideal do herói americano — corajoso, justo e de princípios firmes. Até hoje, é símbolo do faroeste clássico e do cinema de integridade moral e simplicidade.